Com pouco mais de um ano em funcionamento, o Viveiro de Mudas Nativas “Cultivando Vida Sustentável” se tornou fundamental para a educação ambiental e para a produção de mudas voltadas à recuperação das nascentes da Bacia do Rio Lira, em Sorriso, no médio-norte de Mato Grosso. Só no ano passado, foram produzidas 8.500 mudas de espécies nativas e, neste ano, já foram cultivadas cerca de 9 mil.
A estrutura foi inaugurada em junho do ano passado, dentro do campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – IFMT Campus Sorriso, em uma parceria entre o Instituto e a Associação Clube Amigos da Terra (CAT Sorriso).
Com capacidade instalada para produzir até 20 mil mudas anualmente, o viveiro já superou a marca de 17 mil mudas de espécies como jatobá, ipê-amarelo, copaíba, ingá e açaí. Essas mudas estão sendo utilizadas na recuperação das nascentes da Bacia do Rio Lira, um importante patrimônio ambiental de Sorriso.
Um diagnóstico feito pelo poder público, em 2019, mapeou 109 nascentes responsáveis pelo abastecimento e manutenção da capacidade hídrica da Bacia Hidrográfica do Rio Lira. Dessas, 60 precisavam ser restauradas. No ano seguinte, teve início o projeto “Água do Lira – Seja Amigo das Nascentes”, coordenado pelo CAT Sorriso, com apoio do IFMT, do Ministério Público Estadual (MPE), de empresas e de agricultores, em uma união de esforços para reverter esse cenário.
“O viveiro permitiu que a gente adequasse a produção à realidade das áreas que precisam de restauração, principalmente as mais degradadas, onde só o isolamento da área não é suficiente”, disse o engenheiro florestal e mestre em Ciências Ambientais, Everton José Almeida, que também é professor no IFMT Campus Sorriso. “Agora conseguimos produzir as espécies ideais para cada tipo de solo e umidade, e isso tem feito toda a diferença nos resultados em campo”, explica o professor.
A produção própria de mudas solucionou um dos principais desafios do projeto, que não conseguia adquirir a quantidade necessária para suas ações. “A obtenção dessas mudas não era simples, porque não existem muitos viveiros. A demanda por mudas é alta nesse setor”, pontua o engenheiro florestal. A criação do viveiro também representou uma solução para a questão dos custos. “Pensando em reduzir despesas e também em ter uma produção mais alinhada com a nossa necessidade, surgiu a ideia de criar o viveiro”, lembra o professor do IFMT.
Uma estrutura que conecta ciência e sustentabilidade
Além da produção de mudas, o viveiro se consolidou como um ambiente de formação técnica e cidadã para os estudantes do IFMT. O espaço é destinado ao aprendizado nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, sendo utilizado em disciplinas como silvicultura, recuperação de áreas degradadas, fitopatologia, adubação e nutrição mineral de plantas.
O local permite a realização de práticas como beneficiamento de sementes, preparo de substratos, técnicas de superação de dormência, acompanhamento do desenvolvimento de espécies, entre outras. Também é utilizado em cursos, oficinas e projetos de pesquisa, com dois Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) desenvolvidos ali no último ano.
“O viveiro é um espaço multidisciplinar que possibilita o contato direto dos alunos com o ciclo completo da produção florestal e, mais do que isso, permite que eles se envolvam em uma causa maior: a restauração ecológica. Ver as mudas que eles mesmos semearam sendo plantadas para proteger uma nascente é uma experiência transformadora”, reforça o professor.
A coordenadora do CAT Sorriso, Cristina Delicato, também destaca os impactos positivos da iniciativa. “É uma alegria enorme ver que o trabalho do CAT vai além do presente. Saber que o viveiro do IFMT, fruto da nossa parceria, tem contribuído não só para a recuperação do Rio Lira, mas também para a formação de jovens que levam esse aprendizado para a vida até mesmo na graduação é muito gratificante. Esse é o legado que queremos deixar: conhecimento, consciência e compromisso com o futuro”, ressalta.
Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio Lira
Até o momento, quatro nascentes da Bacia do Rio Tenente Lira foram revitalizadas, e outras duas estão em processo de restauração. As ações seguem um plano técnico que avalia o grau de degradação, define as espécies mais adequadas e aplica as melhores estratégias para a restauração da vegetação nativa. Em áreas muito impactadas, o plantio de mudas tem se mostrado essencial.
“É uma sensação maravilhosa ver a área revitalizada depois da recuperação das nascentes. É como presenciar um renascimento da natureza. Ver a vegetação voltar a crescer com vigor, as espécies nativas retornando, tanto animais quanto plantas… Dá uma sensação de dever cumprido. Estamos no caminho certo”, afirma a engenheira agrônoma e técnica de campo do CAT Sorriso, Luciana Pereira.