Desigualdade marca transição energética global, aponta estudo

Relatório da Oxfam Brasil revela que países ricos consomem energia além do necessário, enquanto investimentos em renováveis permanecem concentrados no Norte Global.

Fonte: CenárioMT

Desigualdade marca transição energética global, aponta estudo
Desigualdade marca transição energética global, aponta estudo - Foto: Divulgação/Ari Versiani/PAC

Um estudo da Oxfam Brasil evidencia a desigualdade nos modelos de consumo energético e alerta para a continuidade desse padrão na transição energética. O relatório Transição Injusta: Resgatando o Futuro Energético do Colonialismo Climático reúne dados sobre o consumo de energia nos últimos 60 anos e propõe recomendações para promover justiça energética.

Os pesquisadores identificaram que o Norte Global consumiu 3.300 PWh a mais do que o necessário para atender às necessidades básicas modernas, considerando o mínimo de energia moderna (MEM) definido pela Fundação Rockefeller e pelo Energy for Growth Hub.

Esse excesso seria suficiente para suprir as necessidades de toda a população mundial sem acesso à eletricidade por cerca de 20 anos. No Brasil, dados do Censo 2022 do IBGE mostram que 99,8% dos domicílios possuem energia elétrica, deixando aproximadamente 400 mil pessoas sem acesso.

“Diante de um contexto de pobreza energética, estamos fazendo uma transição energética que reproduz desigualdade e padrões coloniais”, afirma Viviana Santiago, diretora-executiva da Oxfam Brasil.

O estudo também aponta que, embora o Sul Global detenha 70% das reservas de minerais críticos para energia renovável, a maior parte dos investimentos ocorre no Norte Global (46%) e na China (29%), enquanto América Latina, Sudeste Asiático, Oriente Médio e África recebem apenas 2% a 3% dos investimentos, apesar da África Subsaariana concentrar 85% da população sem eletricidade.

“A transição energética atual prioriza os mais ricos e deixa grande parte da população mundial em zona de sacrifício”, alerta Santiago.

Justiça energética

O relatório também destaca que 22,7 milhões de km² de terras indígenas estão ameaçadas por atividades industriais relacionadas à transição energética. Os pesquisadores defendem o princípio de responsabilidades compartilhadas e diferenciadas, buscando distribuição equitativa dos benefícios e mitigação dos impactos no Sul Global.

“É preciso diálogo e pressão sobre países e empresas para garantir uma transição justa”, reforça Viviana Santiago.

Entre as recomendações do relatório estão: governança energética, reformas no sistema financeiro global, salvaguarda das comunidades tradicionais e fortalecimento do multilateralismo com justiça internacional.

Gabriela Cordeiro Revirth, independente jornalista e escritora, é uma pesquisadora apaixonada de astrologia, filmes, curiosidades. Ela escreve diariamente para o Portal de Notícias CenárioMT para partilhar as suas descobertas e orientar outras pessoas sobre esses assuntos. A autora está sempre à procura de novas descobertas para se manter atualizada.