“Somente a democracia será capaz de reconstruir o multilateralismo e reconstruir a harmonia entre os seres humanos e a civilidade entre a relação dos Estados”. Com essa afirmação e buscando levantar reflexões junto a chefes de Estado e autoridades globais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta quarta, 24 de setembro, em Nova York, do evento “Em Defesa da Democracia, Combatendo Extremismos”, no âmbito das agendas da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas.
“O que deixamos de fazer para fortalecer a democracia? Onde erramos?”, indagou Lula, ao lado de lideranças como as do Chile (Gabriel Boric), do Governo da Espanha (Pedro Sánchez), da Colômbia (Gustavo Petro), do Uruguai (Yamandú Orsi) e de dezenas de outras nações.
Precisamos acordar todo dia e perguntar o que a gente vai fazer pela democracia. Quando for dormir à noite, encostar a cabeça no travesseiro e se perguntar o que você fez para fortalecer a democracia. Com quantas pessoas falamos de organização por bairro, por local de moradia, de estudo, de trabalho? A verdade é que não falamos. E se não falamos, não organizamos. E se não organizamos, a democracia perde”, argumentou.
Para o presidente brasileiro, o crescimento da extrema direita em vários países exige que as autoridades busquem respostas concretas e soluções. “Por que permitimos que a extrema direita crescesse com a força que está crescendo? É virtude deles ou incompetência nossa? Vamos responder a nós mesmos”, provocou Lula. “Temos que procurar os erros que a democracia cometeu na relação com a sociedade civil. Como estamos exercendo a democracia nos nossos países? Se a gente encontrar a resposta, a gente volta a vencer. Se a gente não encontrar, vamos continuar sufocados pelo negacionismo, pelo extremismo e pelo discurso fascista que nós estamos vendo agora”.
CHAVE PARA O CONVÍVIO – Presidente do Conselho Europeu, o português António Costa fez a defesa de fazer valer efetivamente os conceitos democráticos como chave de um convívio pacífico entre diferentes vertentes ideológicas. “Democracia é o sistema que faz possível a convivência e a alternância política pacífica de poder entre projetos ideológicos diferentes. Não pode ter cor, raça, gênero ou nacionalidade. A democracia garante a liberdade de todos os que querem defender as liberdades”, ressaltou.
REVALORIZAR A DEMOCRACIA – No mesmo tom, o presidente do Uruguai reforçou que é preciso que os líderes trabalhem para revalorizar em seus países os fundamentos da democracia. “Nós sempre entendemos a luta por ideias e as lutas com diferentes partidos políticos, deixando nossos povos decidirem quais forças políticas ou partidos deveriam governá-los. Enquanto isso é retomado e valorizado, conseguimos obter o que Lula disse: revalorizar a democracia e colocar na mesa questões modernas, recentes, e, de certa forma, voltar ao que foi antes, para fazer as pessoas felizes”, frisou Yamandú Orsi.
DEFESA DO PROGRESSISMO – O Presidente do Chile, Gabriel Boric, defendeu que os líderes progressistas tenham orgulho de defender as vertentes ideológicas que representam. “Quando vejo vocês aqui reunidos, tenho esperança. Esperança porque estamos falando do que é positivo. Porque não basta apontar com o dedo a quem cremos ser uma ameaça. Não basta dizer que não gostamos. Temos que transmitir e acreditar nas ideias que defendemos. Lembrar que o progressismo, quando governa, traz mais paz social. Reforçar que o progressismo, quando governa, promove crescimento equitativo. E que o progressismo defende os direitos humanos e a liberdade de expressão”, listou.
ENGAJAMENTO – Presidente da Bolívia, Luis Arce afirmou que eventos como o realizado em Nova York devem ser realizados com frequência. “O extremismo que temos agora promove o ódio, a intolerância, a xenofobia, a violência. Promove sanções unilaterais. Este novo tipo de extremismo está minando a base econômica, política e ideológica da democracia liberal, promovendo um novo colonialismo. Estas reuniões devem ocorrer periodicamente entre todos nós para debater a situação. A verdadeira democracia é a democracia de engajamento”.
ASSEMBLEIA GERAL – Na terça-feira (23/9), Lula discursou na abertura da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas . O presidente Luiz Inácio Lula da Silva frisou que a soberania do Brasil é inegociável e posicionou-se na defesa dos valores democráticos, da importância do multilateralismo, dos preceitos que regem o desenvolvimento sustentável e pelo combate à mudança do clima. Ele destacou ainda a necessidade de o mundo se unir em prol da paz e do combate à pobreza.
FUNDO DE FLORESTAS TROPICAIS – À tarde, o presidente anunciou, durante a Sessão de Abertura da Reunião sobre o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre que o Brasil vai investir US$ 1 bilhão na iniciativa. O Fundo, que propõe um modelo inovador de financiamento para a conservação das florestas tropicais, será oficialmente lançado durante a 30ª Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança do Clima, a COP30, agendada para novembro, em Belém (PA).
PALESTINA – A agenda de Lula em Nova York teve início na segunda-feira (22/9), quando o presidente participou da segunda sessão da Conferência Internacional de Alto Nível para a Resolução Pacífica da Questão Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados , convocada por França e Arábia Saudita. O Governo do Brasil defende que o único caminho para a paz e a estabilidade no Oriente Médio passa pela implementação da solução de dois Estados, com um Estado da Palestina independente e viável, coexistindo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro das fronteiras de 1967, incluindo a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, com Jerusalém Oriental como capital. “Tanto Israel, quanto a Palestina têm o direito de existir”, afirmou o presidente brasileiro.