A Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (Apan) realizou, nesta semana, uma audiência no Congresso Nacional para discutir o futuro das ações afirmativas no cinema brasileiro. O encontro, promovido pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, reuniu parlamentares, lideranças do setor e representantes da sociedade civil.
Segundo Tatiana Carvalho Costa, presidente da Apan, o momento é decisivo para consolidar uma reparação histórica. “Vivemos um ponto de inflexão: de um lado, avanços em políticas públicas; de outro, o desafio de fortalecer uma indústria que represente a pluralidade da população negra, maioria no país”, afirmou.
Levantamentos mostram o tamanho da desigualdade. Em 2016, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) apontou que apenas 2% dos diretores de filmes lançados eram negros, e apenas 4% dos roteiristas. Já em 2019, o Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa/Uerj) revelou que, entre 142 longas nacionais, apenas um havia sido dirigido por uma mulher negra. Entre 1908 e 2015, menos de 1% das produções brasileiras tiveram protagonismo negro.
A pesquisadora Márcia Cândido, do Gemaa, reforçou que a história da população negra foi apagada do cinema nacional. Para ela, as políticas afirmativas são essenciais para ampliar a diversidade e refletir novas perspectivas sociais nas telas.
Na audiência, Natália Carneiro, do Geledés/Instituto Mulher Negra, destacou que o cinema é uma “máquina de fabricar imaginários”, e que a ausência de protagonistas negros resulta em exclusão simbólica e no chamado epistemicídio. “Não é apenas simbólico. É uma forma de negar humanidade”, alertou. Um estudo do Geledés mostra que, em 2022, homens brancos receberam cerca de 30 vezes mais recursos públicos do que mulheres negras.
A cineasta e pesquisadora Viviane Ferreira apresentou o estudo “Empresas audiovisuais vocacionadas para reparação histórica”, que define companhias lideradas majoritariamente por negros e indígenas como fundamentais para transformar o setor. Ferreira foi a segunda mulher negra a dirigir sozinha um longa de ficção no Brasil, com Um Dia Com Jerusa (2020), obra que aborda ancestralidade e solidão da mulher negra.
“Não basta produzir filmes, precisamos estruturar empresas, aprender a captar recursos e fortalecer nossas bases. Sem isso, não conseguimos garantir continuidade e autonomia”, concluiu Ferreira.















