CNA e FPA pedem para governo reconsiderar decisão preliminar sobre investigação de dumping

Entidades cobraram posição do MDIC em nova reunião realizada na terça (2)

Fonte: Assessoria

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A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) participaram, na terça (2), de nova reunião com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para reforçar a preocupação do setor com a condução da investigação de práticas de dumping contra as importações de leite em pó vindo de países do Mercosul.

A reunião foi solicitada após o MDIC negar o pedido da CNA para a prorrogação do período probatório da investigação de dumping, estabelecido em 7 dias, prazo muito inferior aos 102 dias que normalmente são aplicados pela autoridade investigadora brasileira em casos semelhantes.

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A CNA alertou que, caso a investigação seja encerrada nos termos atuais, considerando o entendimento de que leite em pó e leite fluído não são produtos similares, o Brasil abrirá perigoso precedente, impedindo que os produtores nacionais tenham acesso efetivo ao sistema de defesa comercial brasileiro.

“Nós não somos contra a importação de leite, mas não podemos permitir que ocorra a prática desleal e predatória, que está comprovada nos estudos da CNA, e que a Organização Mundial do Comércio (OMC) condena”, disse o vice-presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, Jônadan Ma.

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Segundo Jônadan, além de defender o produtor, o país precisa garantir a soberania no abastecimento nacional. “O setor sabe a gravidade do problema, que envolve a permanência mais de um milhão de famílias no campo”.

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion, afirmou que o país enfrenta um problema sério de evasão no campo. “Se encerrarmos a investigação dessa forma, nós fecharemos as portas par qualquer possibilidade de questionar práticas desleais de comércio”.

Para Lupion, o governo não pode tomar uma decisão que inviabilize a atividade leiteira, uma vez que causaria problemas sociais e econômicos. “Nós fizemos um apelo para que haja o entendimento claro em relação ao prejuízo à produção de leite nacional e sobre a concorrência desleal e a inviabilidade que ela gera na manutenção da atividade”.

“Nós viemos para representar o setor, dialogar, apresentar nossas pautas e buscar soluções, porque essa situação impacta não só o produtor de leite, mas também toda a cadeia de alimentos. Dependendo da decisão do governo, nós podemos recorrer a uma série de medidas dentro do Congresso Nacional para atuar nesse tema”, destacou o deputado Sérgio Souza (MDB-PR).

Já a deputada Marussa Boldrin (MDB-GO) reafirmou que os parlamentares e o setor produtivo seguem na luta para defender o leite brasileiro. “A diferença da reunião de hoje para a última são os números que comprovam o abandono da atividade, a falta de investimentos, os impactos no custo e na rentabilidade das famílias”.

Atuação – Em agosto de 2024, a CNA protocolou uma petição no MDIC solicitando a análise da prática de dumping na importação de leite em pó da Argentina e do Uruguai. Em dezembro a investigação foi aberta. Em 15 de março de 2025, a CNA protocolou pedido de aplicação de tarifas antidumping provisórias, uma vez que as importações seguiam aquecidas.

Em 12 de agosto deste ano, o MDIC publicou uma circular comunicando que não aplicaria direitos antidumping provisórios contra o leite em pó. O documento trouxe também um novo entendimento do governo, alegando que o leite in natura não é similar ao leite em pó e que a análise de dano deveria ocorrer sobre o leite em pó nacional.

De acordo com o assessor técnico da CNA Guilherme Souza Dias, “essa nova interpretação não faz sentido, pois parte das indústrias brasileiras de leite também importam leite em pó como ingrediente”.

Desde a primeira investigação de dumping contra o leite em pó da União Europeia e da Nova Zelândia, em 1999, por exemplo, o governo brasileiro considerava o leite in natura e o leite em pó produtos similares. A decisão levou à aplicação de tarifas antidumping, que foram renovadas por duas vezes, em 2007 e em 2013.

Durante reunião no dia 13 de agosto, a CNA, deputados e entidades do setor leiteiro contestaram a decisão do Ministério e pediram que avaliassem o novo entendimento em relação ao leite in natura e em pó. No dia 22 de agosto, a entidade enviou ao MDIC o pedido de reconsideração e forneceu dados técnicos que comprovam a tese de similaridade entre os produtos.

“Essa mudança de entendimento, que contradiz mais de duas décadas do protocolo de defesa comercial adotado pelo Brasil, nos causou estranheza e apresentamos novos argumentos que pudessem reverter esse quadro. Além disso, buscamos apoio dos parlamentares para sensibilizar o ministério e mostrar que quem sofre o dano com a importação do produto subsidiado em sua origem são os produtores de leite in natura brasileiros”, explicou Dias.

“A CNA apresentou um pedido de reconsideração muito bem elaborado e fundamentado, que vai nos ajudar a chegar a uma decisão. Está claro o impacto negativo à cadeia leiteira e a relevância do setor para o sistema econômico do país, que envolve questões estratégicas e de segurança alimentar”, disse o secretário-executivo do MDIC, Márcio Elias Rosa.

O prazo para envio de manifestações das partes envolvidas no processo, quanto ao pedido de reconsideração termina na próxima segunda (8) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços tem até o dia 30 de setembro para tomar uma decisão.

Também participaram da reunião o coordenador de Produção Animal da CNA, João Paulo Franco, os deputados Zé Vitor (PL-MG) e Rafael Simões (União-MG) e representantes do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite).

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Formado em Jornalismo, possui sólida experiência em produção textual. Atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT, onde é responsável por criar conteúdos sobre política, economia e esporte regional. Além disso, foca em temas relacionados ao setor agro, contribuindo com análises e reportagens que abordam a importância e os desafios desse segmento essencial para Mato Grosso. Cargo: Jornalista, DRT: 0001781-MT