Um mergulho íntimo na amizade entre Jorge Amado e Dias Gomes marca o lançamento do livro Cartas: Dias Gomes – Jorge Amado, apresentado na abertura da Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), em Salvador. A obra é a primeira da nova coleção Um Gesto de Amizade, criada pela Fundação Casa de Jorge Amado para eternizar trocas epistolares do renomado autor baiano com figuras marcantes da cultura brasileira.
Durante décadas, Jorge Amado manteve o hábito de responder e guardar cartas. Seu acervo, sob custódia da fundação que leva seu nome, é composto por milhares de correspondências com escritores, políticos e artistas, incluindo bilhetes pessoais e documentos marcados com a recomendação “para guardar”.
O lançamento da coleção reflete um esforço contínuo de organização desse rico material. O livro inaugural destaca o vínculo afetuoso entre Jorge Amado e Dias Gomes, homenageado desta edição da Flipelô. As cartas revelam não só a afinidade intelectual dos autores, mas também o humor irônico e a cumplicidade entre eles.
“É uma correspondência leve, entre amigos, de um tempo em que e-mails não existiam e telefonemas eram raros”, observou Ângela Fraga, presidente da fundação. A curadoria das cartas ficou a cargo de Bete Capinan e Paloma Jorge Amado, filha do escritor.
A coleção já prevê novas publicações, com correspondências de Jorge Amado com Érico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade e João Ubaldo Ribeiro. Este último, segundo Paloma, renderá um volume extenso e emocional, fruto de um acervo inesperadamente bem organizado encontrado pela filha de João Ubaldo em uma estante na ilha onde a família costumava passar o carnaval.
Em tom bem-humorado, o livro mostra episódios curiosos, como a carta em que Dias Gomes comenta, com ironia, sobre sua visita à Disney. “Nunca pensei que, como comunista, eu fosse à Disney”, escreveu ao amigo. A frase virou uma das favoritas de sua neta, Tatiana Dias Gomes, que participou da homenagem ao avô na Flipelô.
As cartas abordam temas como literatura, censura, política cultural e até a indicação à Academia Brasileira de Letras. Para Tatiana, a leitura foi emocionante: “Vi o jeitinho dele ali, sua ironia e seu humor fino. O livro mostra como a amizade entre os dois era profunda.”
A Flipelô segue com programação gratuita até o domingo (10), no centro histórico de Salvador.