Autoras expõem realidade das domésticas na Flip com olhar crítico

Lilia Guerra e Alia Trabucco Zerán trouxeram à Flip narrativas que revelam as marcas sociais e históricas do trabalho doméstico.

Fonte: CenárioMT

Paraty (RJ), 31/07/2025 - A escritora Lilia Guerra participa da mesa A casa, o mundo durante a 23ª Festa Literária Internacional de Paraty - Flip no Auditório Matriz. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Autoras expõem realidade das domésticas na Flip com olhar crítico - Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Na 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), as autoras Lilia Guerra, do Brasil, e Alia Trabucco Zerán, do Chile, abordaram em suas obras a realidade das trabalhadoras domésticas na América Latina. A mesa “A casa, o mundo” destacou a desigualdade social refletida nesse tipo de trabalho, muitas vezes herdado da estrutura escravocrata.

Lilia Guerra apresentou seu romance O céu para os bastardos, que retrata personagens femininas marcadas pela experiência do trabalho doméstico. A autora compartilhou seu vínculo pessoal com a temática: “Todas as mulheres da minha casa eram trabalhadoras domésticas”. Sua trajetória inclui experiências diretas nesse universo, desde a infância até o início da vida profissional.

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Com base nas memórias da avó, da mãe e da própria vivência, Lilia construiu os perfis das personagens e dos empregadores que compõem sua obra. “Eu observava os patrões e usava essa escuta e lembrança para escrever”, explicou.

Alia Trabucco Zerán, por sua vez, lançou As limpas, romance baseado em pesquisa sobre o sindicato das trabalhadoras domésticas chilenas. Segundo ela, a história do grupo remonta ao início do século 20 e revela conflitos até mesmo com outras mulheres da classe trabalhadora. A autora relatou reações intensas de leitores que se sentiram incomodados com a abordagem crítica da obra.

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A discussão trouxe à tona a violência de classe e os preconceitos sociais que ainda cercam o trabalho doméstico. Zerán destacou como mulheres de gerações mais recentes, descendentes de empregadas domésticas, sentiram-se representadas pela narrativa.

Lilia também abordou a origem do título de seu livro, inspirado em uma passagem bíblica e em sua própria história de vida como filha de mãe solo. “Eu não sabia o que era ser bastarda quando criança, mas sentia que havia algo diferente”, relatou. Moradora da zona leste de São Paulo e auxiliar de enfermagem, Lilia deu início à carreira literária com publicações independentes.

Na apresentação, ela homenageou a escritora Carolina Maria de Jesus, estampada em seu vestido, e compartilhou episódios que marcaram sua infância, como o impedimento de fazer catecismo por não ter o nome do pai no registro. “Fiquei com essa pergunta na cabeça: para onde vão essas pessoas?”, disse, explicando a motivação do título O céu para os bastardos.

As falas das autoras reforçaram a importância de dar visibilidade às histórias invisibilizadas pelas estruturas sociais, além de denunciar as desigualdades que persistem nas relações de trabalho doméstico.

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Gustavo Praiado é jornalista com foco em notícias de agricultura. Com uma sólida formação acadêmica e vasta experiência no setor, Gustavo se destaca na cobertura de temas relacionados ao agronegócio, desde insumos até tendências e desafios do setor. Atualmente, ele contribui com análises e reportagens detalhadas sobre o mercado agrícola, oferecendo informações relevantes para produtores, investidores e demais profissionais da área.