A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, foi destaque na 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), na noite de sexta-feira (1º), ao criticar o Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental (PL 2.159/21) e compartilhar aspectos de sua trajetória pessoal.
Durante a mesa ‘O Lugar da Floresta’, a ministra foi calorosamente recebida no Auditório da Matriz, com o público de pé. Enquanto isso, no Auditório da Praça, onde sua participação foi transmitida ao vivo, ela foi aplaudida diversas vezes.
Marina destacou que o licenciamento ambiental é essencial para a proteção dos biomas e manifestou preocupação com as mudanças propostas pelo Congresso. “Não consigo ver como vamos alcançar as metas de redução de CO₂ se o licenciamento for mutilado”, declarou. O projeto aprovado prevê simplificações no processo, novas modalidades de licença e prazos reduzidos.
O texto aguarda sanção presidencial, e o prazo para decisão do presidente Lula é até 8 de agosto. Marina alertou sobre os riscos de descentralização das regras, permitindo que estados e municípios definam critérios distintos. “As leis da natureza não mudam conforme a ideologia do gestor”, disse.
A ministra também ressaltou que o país conseguiu reduzir o desmatamento em 46% na Amazônia, 25% no Cerrado e 77% no Pantanal, e que o desenvolvimento econômico pode coexistir com a preservação ambiental. “O agronegócio cresceu 15% enquanto o desmatamento caiu”, afirmou.
Literatura e formação
Ao ser questionada sobre sua formação e a influência da literatura, Marina relembrou a avó analfabeta que decorava literatura de cordel. Disse que mesmo sendo analfabeta até os 16 anos, a oralidade e as narrativas populares alimentaram seu conhecimento. Relatou com emoção o impacto de uma história de cordel em sua decisão de buscar alfabetização.
Crítica à política atual
Marina avaliou que o país vive um momento distópico, em que a política tem se tornado repetição e perdeu sua função transformadora. Citando Zygmunt Bauman, defendeu a necessidade de rupturas e novos paradigmas.
COP 30 e emergência climática
A ministra defendeu que a COP 30, a ser realizada no Brasil, seja um marco de compromissos concretos entre os países. Ressaltou a importância de financiar ações climáticas em países em desenvolvimento, com um aporte mínimo de US$ 1,3 trilhão.
Criticou o contraste entre a dificuldade de garantir esse financiamento e os investimentos em atividades poluentes. “O mundo continua aplicando trilhões em fontes fósseis”, alertou.
Concluiu defendendo uma transição energética justa e planejada, como resposta às tragédias climáticas já em curso. “Temos que planejar a mudança antes de sermos abruptamente mudados”, afirmou.