Há cada vez mais interesse institucional em moedas digitais no Brasil

Fonte: CenárioMT

criptomoedas
criptomoedas

No início de 2024, quando a SEC liberou os primeiros ETFs à vista de bitcoin nos Estados Unidos, o efeito dominó chegou rápido ao Brasil. Desde então, os fundos de cripto listados em bolsas norte‑americanas já somam perto de 150 bilhões de dólares em patrimônio, praticamente o dobro de um ano atrás, segundo levantamento do CoinDCX Academy.

Essa porta regulada para o ativo virou sinal verde para gestoras internacionais e, logo em seguida, para as brasileiras, que passaram a tratar o mercado de cripto como classe legítima de alocação.

Como o Brasil ficou atrativo para o grande capital

A aprovação americana de janeiro de 2024 acelerou o apetite local. Na B3, os ETFs de cripto fecharam abril de 2025 com R$ 13,7 bilhões em patrimônio líquido, alta de 11% sobre março, além de 576 mil cotistas.

Até quem já busca exposição além do bitcoin, pode aceder a listas de criptomoedas promissoras, justamente porque o dinheiro institucional prefere ativos de maior liquidez e compliance. O interesse reflete‑se também nas corretoras.

A Binance, maior exchange do mundo, reportou salto de 97% no número de contas de investidores institucionais em 2024 e 160 bilhões de dólares em ativos sob custódia, nas palavras de Catherine Chen, chefe global de clientes VIP & Institutional.

Para atender a esse público, a plataforma lançou soluções como o Banking Triparty, que permite manter garantias tradicionais, letras do Tesouro, por exemplo, em arranjos de margem para cripto, reduzindo risco de contraparte. O ambiente regulatório também virou aliado.

O Marco Legal dos Criptoativos (Lei 14.478/22) deu ao Banco Central poderes para autorizar prestadores de serviços. Em 2025, a autarquia abriu a Consulta Pública 122/2025 para normas contábeis de cripto e tokenização, com prazo de contribuições até agosto.

Além disso, o PL 4.308/24, em análise na Câmara, cria regras específicas para stablecoins, peça vital porque cerca de 90% do fluxo cripto brasileiro já passa por stablecoins, segundo o diretor do Banco Central, Gabriel Galípolo, em evento do BIS.

Segurança deixou de ser obstáculo. O 2025 Crypto Crime Report da Chainalysis mostra que as transações ilícitas representaram apenas 0,14% do volume on‑chain em 2024, contra 0,61% no ano anterior.

A transparência da blockchain, afirma Catherine Chen, facilita auditoria pública de cada transferência, algo que o sistema bancário tradicional não entrega com a mesma rapidez. Com liquidez regulada via ETFs, infraestrutura de custódia sofisticada e um arcabouço legal em expansão, o Brasil passou a figurar no radar de fundos de pensão, tesourarias corporativas e gestoras macro internacionais. 

Carteiras institucionais que ganham tração em 2025

O salto do capital profissional para o mercado de cripto já aparece nas demonstrações financeiras de empresas brasileiras. No primeiro semestre de 2025, tesourarias corporativas ao redor do mundo, mais de 140 delas, incluindo grupos nacionais de construção e varejo, passaram a deter 925 mil BTC em reserva.

Isso segundo o relatório Half-Year Report 2025 da Binance Research. Mas essa procura não se resume ao bitcoin. Gestoras locais agora enxergam espaço para um “núcleo” de blue chips digitais e um leque de altcoins temáticas capazes de reduzir a correlação com o Ibovespa sem sacrificar liquidez.

O primeiro reflexo concreto dessa demanda no Brasil veio na B3. Depois de o QSOL11, ETF à vista de Solana listado em julho passado, captar R$ 15,5 milhões no book-building e inaugurar um índice diário em reais para a rede. Outro fundo de SOL recebeu sinal verde da CVM, pois a cripto está entre as preferidas de alocação tática das mesas de trading.

A Hashdex lançou o XRPH11, que superou R$ 230 milhões de patrimônio em menos de dois meses, tornando-se o caso de estreia mais bem-sucedido da categoria na bolsa paulista. Para o núcleo de carteira, bitcoin e ether seguem imbatíveis, mas Solana aparece em quase todos os modelos de risco da Mynt, braço cripto do BTG Pactual.

Também há uma possível valorização em discussão, caso o ETF de SOL seja aprovado também nos EUA. A própria VanEck, referência global em fundos setoriais, sugere preço-alvo de 520 dólares para o token em seu cenário base, argumento que convence fundos de pensão a reservar até 2% do portfólio para a rede.

Stablecoins entraram oficialmente na caixinha de gestão de caixa das empresas nacionais. O impacto dessas moedas digitais nas remessas e na volatilidade cambial é impressionante. E a preocupação regulatória vai na mesma direção.

O PL 4.308/24, em tramitação na Câmara, cria regras específicas para emissores de ativos lastreados em dólar, enquanto o Banco Central estuda exigências prudenciais na Consulta Pública 118/2025. Esse avanço normativo conversa com o Drex, infraestrutura de depósitos tokenizados que o BACEN testa em fase piloto.

De acordo com a página institucional da autoridade monetária, o Drex pretende propiciar acesso seguro e democrático aos benefícios da digitalização, abrindo caminho para tokenização de recebíveis, CDBs e debêntures ainda em 2026.

Para tesourarias, a perspectiva de liquidez 24/7 em títulos públicos via Drex reforça o interesse por criptoativos interconectados, sobretudo aqueles que já oferecem interoperabilidade com blockchains de segunda camada.

Ao juntar liquidez de ETFs, métricas de uso real e horizonte regulatório claro, o Brasil vive, pela primeira vez, um ciclo em que o dinheiro institucional chega antes do varejo nos ativos digitais.