Imagens em preto e branco revelam o caos provocado pelas enchentes no Rio Grande do Sul, mostrando pessoas ilhadas, animais em desespero e ruas tomadas pela água. Esse é o ponto de partida do documentário Rua do Pescador nº 6, dirigido por Bárbara Paz e exibido no Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito (Cinesur), em Mato Grosso do Sul.
O longa destaca a destruição ocorrida em maio de 2024, quando o estado enfrentou a maior tragédia climática de sua história. Com uma abordagem sensível e silenciosa, o filme registra o drama de famílias afetadas pelas inundações que atingiram 478 dos 497 municípios gaúchos, deixando 184 mortos, 806 feridos e 25 desaparecidos, além de quase 200 mil pessoas fora de seus lares.
“Era urgente registrar isso. É um documento histórico que precisa ser visto”, afirmou a diretora após a exibição. A obra faz um paralelo entre as enchentes atuais e as que ocorreram em 1941, usando imagens de arquivo para mostrar como os desastres se repetem diante da falta de medidas efetivas.
“As imagens falam por si. O passado se repete e a destruição continua”, disse Bárbara. Ao justapor as tragédias de ontem e hoje, o filme propõe uma reflexão profunda sobre a emergência climática.
A narrativa parte de registros aéreos da destruição e avança para o interior das casas atingidas, ouvindo histórias de dor e perda. Sem narração, o documentário opta pelo silêncio para amplificar as vozes dos afetados.
“Quis retratar de dentro para fora. Mostrar aquelas pessoas, suas expressões e silêncios”, explicou a diretora. Seu desejo é que a obra seja exibida na COP 30, em Belém, como forma de influenciar decisões políticas e alertar sobre o agravamento da crise climática global.
O Cinesur segue até 2 de agosto em Bonito, reunindo 63 filmes de nove países sul-americanos e promovendo debates, cursos e encontros com cineastas. O evento busca valorizar produções regionais e discutir temas urgentes da atualidade.