A cidade de Cáceres, localizada a 210 km de Cuiabá e fronteiriça à Bolívia, atravessa um período crítico com o registro de 20 homicídios apenas em 2024. O número, apurado pela Delegacia de Homicídios local, escancara uma escalada de violência impulsionada por disputas entre facções e a participação crescente de adolescentes em ações armadas.
O padrão dos crimes revela ousadia: os assassinatos acontecem em plena luz do dia, durante a madrugada, ou à noite, com o uso de armamento pesado como pistolas 9mm e escopetas calibre 12. Em meio a essa guerra urbana, pelo menos três inocentes perderam a vida por engano.
Um dos casos mais emblemáticos foi o do soldado do Exército Brasileiro, fuzilado em praça pública no bairro Cohab Nova. Ele vestia uma camisa de futebol semelhante à de um suposto alvo, o que levou os criminosos a cometerem o engano fatal.
Outro crime brutal ocorreu em 22 de agosto, quando Genilton Abreu, de 37 anos, foi morto em sua casa no bairro Jardim Universitário. Segundo familiares, o verdadeiro alvo era o vizinho, que desapareceu da cidade após o ataque. Genilton, morto enquanto dormia, deixou esposa e um filho de 11 anos.
Também por erro, um adolescente de 16 anos foi executado. Duas semanas depois, os criminosos localizaram o alvo original e o mataram em seu local de trabalho, no bairro Jardim Guanabara, durante a tarde. O jovem teria feito postagens ironizando facções nas redes sociais, segundo a família.
A sequência de crimes chocantes inclui ainda a morte de Luiz Miguel Aires, de 15 anos. Ele foi retirado de casa no bairro do Junco, levado até a Vila Irene e morto com vários tiros na cabeça e no peito. Segundo parentes, membros da facção à qual pertencia prometeram vingança, afirmando: “Se uma mãe chora, outras chorarão”.
No mesmo dia, o microempresário João Bosco Coimbra Ferreira, de 41 anos, foi assassinado em seu comércio na Avenida José Pinto de Arruda. O crime aconteceu logo após a abertura do estabelecimento, diante do filho e de um funcionário. Bosco, natural de Mato Grosso, havia passado anos trabalhando na Bolívia antes de retornar à cidade natal.
As forças de segurança afirmam estar investigando todos os casos. A Polícia Militar realiza patrulhamentos e apreensões, enquanto a Polícia Civil trabalha na identificação e prisão dos envolvidos. No entanto, o desafio é imenso. Um agente da Civil relatou que, mesmo presos, membros das facções continuam a ameaçar novas ações: “Quando sair, vamos matar mais e mais”, disse.
A comunidade cacerense, diante dessa violência desenfreada, clama por segurança e justiça, em uma cidade marcada por sua história, agora refém do medo.