Três décadas após o lançamento de Cidade Partida, o livro Cidade Partida 30 anos depois atualiza a reflexão sobre a desigualdade no Rio de Janeiro. Organizada por Mauro Ventura, a obra reúne sete artigos e oito entrevistas, incluindo uma inédita com Zuenir Ventura, autor do original. Participam intelectuais como Eliana Sousa Silva, Itamar Silva e Luiz Eduardo Soares, além de entrevistas com personagens centrais da primeira edição.
Silvia Ramos, cientista social e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, destaca em seu artigo que a segurança pública continua sendo o ponto mais crítico da fragmentação urbana. Ela aponta o avanço do tráfico, das milícias formadas a partir das próprias forças policiais e o racismo estrutural como fatores que agravaram o problema. Para ela, o confronto bélico nas favelas perpetua mortes impunes, e políticas de inteligência seriam alternativas mais eficazes.
Mauro Ventura observa que, embora houvesse esperança de transformação, as chacinas se banalizaram e o poder bélico das facções e da polícia aumentou. Ele critica as políticas públicas voltadas para as favelas por serem paliativas e descontínuas, sem escutar as prioridades dos moradores. Ventura também chama atenção para a ascensão de traficantes evangélicos que impõem intolerância religiosa em territórios dominados.
Apesar do cenário duro, os organizadores destacam avanços, como o fortalecimento de coletivos negros e movimentos sociais nas comunidades. Ventura salienta a presença crescente de pesquisadores, comunicadores e lideranças comunitárias vindos das periferias. Para Itamar Silva, ativista e autor de um dos artigos, a cidade está hoje multipartida, com desigualdades ainda mais explícitas e cotidianas. Ele defende que o Rio precisa construir pontes para ser, de fato, digno do título de cidade maravilhosa.