Justiça condena empresa por danos irreversíveis em terras indígenas de Mato Grosso

Comunidade Cinta Larga foi impactada por construção de hidrelétrica em suas terras sem o devido licenciamento, sem autorização do Congresso e com perda de parte do seu território

Fonte: CENÁRIOMT

Relatório liga ‘Marco Temporal’ à violência e crise na saúde indígena em Mato Grosso
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Após mais de duas décadas de luta, a comunidade indígena Cinta Larga, em Mato Grosso, conquista uma importante vitória na Justiça. A empresa Juruena Energia foi condenada a indenizar a etnia pelos danos ambientais e sociais causados pela construção da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Juína.

A decisão judicial, que reconhece a gravidade dos impactos sobre o território indígena e a violação dos direitos dos Cinta Larga, é um marco na luta pela defesa dos povos originários.

A construção da PCH Juína, iniciada em 1983 sem as devidas autorizações, causou a inundação de cerca de 193 hectares de terras indígenas, afetando diretamente a vida e a cultura dos Cinta Larga. A falta de licenciamento ambiental adequado e a invasão do território indígena foram pontos cruciais na decisão judicial.

A sentença determina que a empresa:

  • Indenize os indígenas: A Juruena Energia deverá pagar uma indenização pelos danos materiais causados pela perda de parte de seu território e de recursos naturais, além de pagar royalties mensais pela energia elétrica gerada.
  • Realize o licenciamento ambiental: A empresa terá 12 meses para obter o licenciamento ambiental da usina junto ao Ibama.
  • Obtenha autorização do Congresso Nacional: A empresa deverá solicitar a autorização do Congresso Nacional para o uso de terras indígenas, como determina a Constituição Federal.
  • Pague danos morais coletivos: A empresa foi condenada a pagar R$ 200 mil por danos morais coletivos, valor que será destinado à comunidade indígena.

“Após 20 anos de tramitação e muitas tentativas de acordo, a ação foi sentenciada por se concluir que alguns direitos indígenas são irrenunciáveis, não são passíveis de transação, como a perda territorial ocorrida neste caso”, afirmou o procurador da República Ricardo Pael.

A decisão judicial representa um importante precedente para a proteção dos direitos dos povos indígenas e para a responsabilização de empresas que causam danos ambientais e sociais.

Embora a decisão judicial seja um passo importante, a luta dos Cinta Larga ainda não acabou. A comunidade indígena continuará a acompanhar o cumprimento da sentença e a buscar a reparação integral dos danos sofridos.