José de Souza Martins, sociólogo brasileiro reconhecido nacional e internacionalmente, foi anunciado como Personalidade Acadêmica da 2ª edição do Prêmio Jabuti Acadêmico, marcada para agosto. Em entrevista, ele afirmou que o Brasil mantém uma classe trabalhadora fragilizada e tenta silenciar manifestações populares desde o período da ditadura militar.
Professor titular aposentado da USP e Professor Emérito desde 2008, Martins defende que os movimentos sociais sofreram repressão histórica e que protestos legítimos são criminalizados. Para ele, o país insiste em uma classe trabalhadora submissa, o que reforça desigualdades e impede avanços sociais significativos.
O sociólogo também criticou o histórico escravagista do Brasil, dizendo que ainda hoje há formas de escravidão no país. Ele destacou que a sociedade brasileira nasceu sobre bases violentas e excludentes, tratando seres humanos como propriedade. Em sua análise, a violência estrutural persiste de forma alarmante, visível em fenômenos como linchamentos e na facilidade com que diferentes grupos recorrem à brutalidade.
Martins tem trajetória ativa no combate a essas questões: representou as Américas na Junta de Curadores do Fundo Voluntário da ONU contra as Formas Contemporâneas de Escravidão por mais de uma década e coordenou a criação do Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil e Escravo em 2002. Ele alerta que superar esse quadro requer mobilização popular, participação efetiva dos movimentos sociais e o fim da passividade diante das injustiças.
Na avaliação do sociólogo, é necessário questionar não só as divisões políticas superficiais, mas também a manipulação da fé popular e a impunidade de lideranças. Ele citou como exemplo a condução da crise sanitária durante a pandemia, criticando a ausência de responsabilização por equívocos na vacinação que resultaram em milhares de mortes.
Sobre sua carreira, Martins lembrou o desafio de explicar a persistência da pobreza em um país com tantos recursos e criticou o atraso social que nega à maioria o acesso ao que o Brasil é capaz de produzir. Discípulo de Florestan Fernandes, ele destacou a importância de sua formação intelectual e o rigor metodológico aprendido com o mentor. Vencedor de três Prêmios Jabuti em Ciências Humanas, Martins tem 41 livros publicados e continua refletindo sobre os dilemas sociais brasileiros em obras recentes.