A presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, fez um alerta contundente sobre o futuro do Brasil no cenário global. Em entrevista após o Fórum de Academias de Ciências do BRICS, ela destacou que, embora os países do bloco tenham aumentado sua produção científica para 41% das publicações mundiais em 2024, o Brasil corre o risco de ficar atrás, especialmente em relação aos membros asiáticos.
Nader criticou o baixo investimento nacional em ciência e tecnologia. Para ela, apesar de avanços anteriores que melhoraram a qualidade de vida no país, a sociedade e o governo não reconhecem a ciência como prioridade. Ela citou o exemplo da China, que adota planos quinquenais com a ciência como eixo central de desenvolvimento, e ressaltou a diferença de infraestrutura: enquanto a China tem mais de 120 criomicroscópios em funcionamento, o Brasil conta com apenas dois.
Segundo a pesquisadora, o financiamento é outro obstáculo. O principal recurso, o FNDCT, oferece apenas uma pequena parcela para a ciência. Ela acusou a política brasileira de não ter um projeto consistente, focando apenas no pagamento da dívida pública. Nader lembrou ainda declarações anteriores de autoridades que minimizaram a importância da ciência, reforçando uma visão equivocada de que investimento se limita ao mercado financeiro.
Ela também alertou para a desvalorização da carreira docente e a queda na produção científica brasileira, atribuídas não só à falta de recursos, mas à ausência de respeito e estímulo. Em sua fala no fórum, propôs maior cooperação entre governos, instituições multilaterais e sociedade civil, para transformar conhecimento e inovação em pilares de um Sul Global mais integrado e forte.