Um projeto de pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) tem levado a importantes descobertas sobre a história do cinema e do audiovisual no estado, com ramificações até os Estados Unidos. O trabalho de investigação sobre a memória audiovisual mato-grossense conduziu pesquisadores da UFMT a universidades americanas em busca de informações sobre a Expedição Mato Grosso, realizada pelo Museu da Pensilvânia em 1931. Materiais inéditos relacionados a essa expedição já foram compartilhados com o Cineclube Coxiponés.
A professora Letícia Capanema, coordenadora do projeto, ressalta a relevância da viagem para a compreensão das origens do cinema em Mato Grosso. “O projeto de pesquisa busca realizar investigações acerca da memória e história do cinema e Audiovisual em Mato Grosso. A viagem possibilitou o acesso a materiais de um importante episódio dessa trajetória: a realização da expedição Mato Grosso pelo Museu da Pensilvânia em 1931 que gerou o filme “Matto Grosso: the great brazilian wilderness”, filme esse que tem sido considerado o primeiro documentário sonoro da história do cinema”, explica.
A visita técnica ao Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade da Pensilvânia (Penn Museum) contou com a participação do professor Diego Baraldi para examinar a vasta coleção de objetos, documentos, fotografias e filmes relacionados à expedição. “Ao ter contato com o amplo acervo de objetos, documentos e fotografias relativos a expedição Mato Grosso e ao filme, pudemos compreender, com mais detalhes, o conjunto de circunstâncias e o tipo de olhar trazido pelos expedicionários que se traduzem em imagens e representações de Cuiabá, Cáceres e arredores e, principalmente, dos povos indígenas que interagiram com a expedição”, detalha a professora Letícia Capanema.
Considerado um dos primeiros documentários sonoros da história do cinema, o filme “Matto Grosso: the great brazilian wilderness” combina registros documentais com reencenações e desempenhou um papel significativo na formação de representações da natureza e das populações indígenas de Mato Grosso no exterior. A produção contou com a participação do diretor de fotografia Floyd Crosby e a colaboração de exploradores como Sasha Siemel e George Rawls. O material original está sob a guarda do museu americano, integrando a coleção de Vincenzo Petrullo, antropólogo da Universidade da Pensilvânia que fez parte da equipe científica da expedição.
Um dos resultados mais empolgantes da pesquisa é a descoberta de um segundo filme produzido durante a Expedição Mato Grosso. “A visita nos revelou um segundo filme também produzido pela expedição: “The Hoax” (A farsa, 1932), protagonizado por uma criança boe bororo. Os filmes, fotos e documentos serão objeto de estudo dos pesquisadores envolvidos com a pesquisa que poderão agora fazer análises, a partir de diversas perspectivas, do material encontrado”, revela a professora Letícia Capanema.
A professora informa que o Museu da Pensilvânia compartilhou cópias dos filmes, documentos e fotos com o Cineclube Coxiponés. “Nos próximos meses, o Penn Museum nos enviará cópias dos filmes legendados em português em DVD, além de fotos selecionadas e digitalizadas em alta resolução. Estamos prevendo a realização de exibições dos filmes e também uma exposição de fotos e documentos da Expedição Mato Grosso”, conclui a professora, sinalizando futuras oportunidades para o público brasileiro conhecer esse importante capítulo da história audiovisual de Mato Grosso.