Mensagens xenofóbicas de vestibulandos sobre Cáceres e Unemat geram revolta

Fonte: CENÁRIOMT COM INF. OLHAR DIRETO

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Mensagens de texto com ataques xenofóbicos ao município de Cáceres (219 km de Cuiabá) e à Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) geraram revolta em estudantes da instituição e moradores do município. Os comentários ofensivos foram feitos em um grupo de vestibulandos, intitulado “Unimontes – medicina”, que prestaram o Enem e pretendiam usar a nota para estudar na universidade mato-grossense. O Centro Acadêmico Livre de Medicina (CALM) da Unemat foi quem denunciou os ataques através de nota de repúdio publicada em suas redes sociais nesta terça-feira (13).

Nas mensagens, os vestibulandos fazem piada relacionando a cidade com o tráfico de drogas, chegando a falar inclusive sobre o fato da cidade dividir a fronteira com a Bolívia em tom depreciativo.

“Os livros foram trocados por cocaína… lá não tem cadáver para os estudantes porque os reitores da faculdade vendem em troca de drogas para o tráfico”, disse um dos integrantes do grupo.

Alguns vestibulandos falaram ainda sobre os riscos que a cidade teria, que segundo eles, poderia significar o risco de “sair de casa para estudar e acordar morto”.

“Conheço um estudante de medicina que entrou em 2019 e foi alvo de sequestro relâmpago… foi para na Bolívia”.

Em outras mensagens, outro vestibulando fala sobre a infraestrutura da Unemat, relacionando, novamente, a proximidade com a Bolívia com o perigo que eles teriam caso escolhessem estudar medicina na instituição Um deles fala até sobre o risco que eles teriam de pegar dengue.

“Essa [Unemat] não tem reboco na parede, fica em Cáceres, divisa da Bolívia. Vão te raptar pra você trabalhar nas plantações de coca da Bolívia”. “Pegar dengue assistindo aula”

Revolta
As ofensas geraram revolta nos estudantes de medicina da Unemat que, através do centro acadêmico, denunciaram as injúrias xenófobas, assim como, compartilharam os prints aos quais tiveram acesso. Mateus Vital, presidente da CALM, na Unemat, pontua os comentários como gravíssimos, que ferem a autonomia da universidade.

“Comentários completamente desrespeitosos, criminosos, se você parar pra ver o teor das mensagens, não é somente uma ofensa, passa a ser um crime. Você consegue identificar xenofobia, racismo, preconceito e ataques até mesmo a reitoria da universidade, que é uma coisa gravíssima”, disse.

Em trecho da nota de repúdio que foi publicada pelo CALM, é solicitado o cumprimento da lei nº 9.549, de 13 de maio de 1997, que penaliza a prática, indução ou incitação a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Além disso, o documento ainda fala sobre o papel da Unemat na formação da sociedade cacerense e mato-grossense.

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“Centro Acadêmico gostaria de aproveitar essa nota para dizer que, ao contrário de tudo o que foi dito, o curso de Medicina da Unemat tem uma comunidade acadêmica extremamente exímia, empenhada e com enorme potencial. À exemplo disso, têm-se as 6 turmas já formadas, com vários alunos aprovados nas melhores e mais concorridas residências e concursos nacionais, além de serem excelentes profissionais e seres humanos, dos quais nos orgulhamos imensamente. A todos os acadêmicos da Medicina Unemat que já passaram, bem como a todos os docentes engajados, o nosso muito obrigada por toda persistência nas lutas e batalhas enfrentadas para chegarmos onde estamos, toda a evolução do nosso curso é graças a essas pessoas que acreditaram e lutaram pela melhora da qualidade do nosso ensino”, diz trecho do documento.

O episódio também gerou revolta na página “Cáceres Mil Grau”, que produz conteúdo regional sobre a cidade. Em uma publicação feita em seu perfil nas redes sociais, nesta terça-feira (13), a página denunciou os ataques e solicitou esclarecimento sobre os autores das mensagens ao Ministério Público de Mato Grosso (MPE-MT).