Inteligência artificial combate desmatamento ilegal em Mato Grosso

Fonte: CENÁRIOMT

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Ribeirão Cascalheira (a 900 km de Cuiabá) é, atualmente, um dos municípios que mais desmatam em Mato Grosso. Foram 11.905,4687 hectares (ha) de vegetação nativa suprimidos nos últimos 14 anos.

 

O levantamento é do projeto estratégico Satélites Alertas, desenvolvido pela Procuradoria de Justiça Especializada em Defesa Ambiental e Ordem Urbanística do Ministério Público de Mato Grosso. E é oriundo dessa comarca o primeiro Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado como resultado do projeto implantado há cerca de dois anos.

 

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Com base em um auto de infração lavrado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT), que apontava desmatamento ilegal a corte raso de floresta nativa, bem como no embargo da área, a equipe do Satélites Alertas analisou o caso, levantou os detalhes e as imagens que comprovavam o crime ambiental e enviou o material para a 1ª Promotoria de Justiça de Ribeirão Cascalheira. Na comarca, foi aberta uma Notícia de Fato, que evoluiu para uma Ação Civil Pública (ACP) com liminar parcialmente deferida e culminou na assinatura de um TAC durante audiência de conciliação.

 

No acordo, o proprietário da área se comprometeu a pagar indenização civil, mediante depósito judicial em favor do Fundo Municipal do Meio Ambiente de Ribeirão Cascalheira, bem como a dar entrada no Cadastro Ambiental Rural (CAR) no prazo de 60 dias, abstendo-se de explorar economicamente a área degradada até a regularização ambiental. Além disso, assumiu o compromisso de recuperar as áreas que forem consideradas de preservação permanente e reserva legal.

 

Esse é um dos resultados do Satélites Alertas, iniciativa estratégica do MPMT implantada em março de 2020, que consiste na utilização de inteligência artificial para o cruzamento de dados de áreas desmatadas e queimadas com áreas lançadas no Cadastro Ambiental Rural (CAR) em Mato Grosso. A tecnologia foi desenvolvida em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), por meio de um convênio firmado entre as instituições.

 

Conforme o titular da Especializada em Defesa Ambiental e Ordem Urbanística, procurador de Justiça Luiz Alberto Esteves Scaloppe, o objetivo é utilizar a tecnologia para identificar a prática do dano ambiental ainda no início e, consequentemente, dar maior efetividade ao trabalho dos promotores de Justiça na mitigação dos efeitos danosos ao meio ambiente. Tudo em conformidade com o Planejamento Estratégico 2020/2023 do MPMT, que tem entre seus objetivos estratégicos “elevar as ações de prevenção e de reparação de danos causados aos ecossistemas”.

 

Para isso, foi desenvolvido um módulo a partir da plataforma portável de monitoramento, análise e alerta a extremos ambientais TerraMA², do Inpe. Nela, constam as bases de dados do Prodes (monitoramento do desmatamento, com mapas anuais), Deter (detecção em tempo real do desmatamento, com alertas diários) e Queimadas (monitoramento operacional de focos de queimadas e de incêndios florestais detectados por satélites). Esses dados são trazidos para a rede do Ministério Público e cruzados com outros levantamentos para auxiliar na tomada de decisões.

 

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A partir desse cruzamento e da sobreposição de imagens de satélites, que comparam a cobertura vegetal da área ano a ano, são produzidas Solicitações de Apoio Técnicas (SATs) e encaminhadas ao Batalhão de Polícia Militar de Proteção Ambiental para lavratura dos autos de infração e embargo.

 

O passo seguinte é o envio do material e de um relatório técnico à equipe jurídica do projeto, para elaboração das minutas de notificação, portaria, Ação Civil Pública (ACP) e Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Esse kit é registrado no Sistema Integrado do Ministério Público (Simp) e encaminhado ao promotor da comarca para análise e encaminhamentos.

 

O Satélites Alertas monitora os desmatamentos ocorridos a partir de 22 de julho de 2008. O coordenador do Centro de Apoio Técnico à Execução (Caex) Ambiental do MPMT, promotor de Justiça Marcelo Caetano Vacchiano, explica que, embora os crimes prescrevam nas esferas criminal e administrativa em cinco anos, continuam passíveis de punição na esfera cível. Ele esclarece que o Satélites Alertas atua em duas frentes, partindo dos alertas gerados pelo Inpe ou dos autos de infração lavrados e encaminhados pela Sema-MT. “A equipe também analisa esses autos de infração e elabora as minutas para atuação dos promotores de Justiça na ponta”, acrescenta.

 

RESULTADOS – Em pouco mais de dois anos de projeto, o Satélites Alertas identificou 598.004,1356 hectares (ha) de desmatamentos ilegais, seja por meio e dados do Inpe ou dos autos de infração da Sema-MT. Essa área corresponde a quase quatro vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Foram emitidos 766 relatórios técnicos e elaboradas 14.004 minutas jurídicas, que resultaram em 315 ações civis públicas, cinco ações penais, 936 inquéritos civis, 321 notícias de fato e 39 procedimentos preparatórios.

 

META – Conforme o PEI 2020-2023, a meta relacionada à macroação “Fortalecimento da atuação no combate ao desmatamento ilegal e queimadas nas comarcas” para este ano é de adesão de 40 comarcas ao projeto Satélites Alertas.

 

Ainda que a iniciativa já atenda os 141 municípios mato-grossenses organizados em 79 comarcas, é preciso que cada unidade ministerial instale um Procedimento Administrativo (PA) Estrutural sobre o projeto para efeitos de cumprimento da meta.

 

Tomando essa necessidade como parâmetro, o Departamento de Planejamento e Gestão do MPMT considera o projeto em funcionamento em 34 comarcas.

Redatora do portal CenárioMT, escreve diariamente as principais notícias que movimentam o cotidiano das cidades de Mato Grosso. Já trabalhou em Rádio Jornal (site e redação).