Indígenas isolados dizem que estão passando fome por falta de recursos e transporte durante a pandemia em MT

Fonte: CENÁRIOMT COM INF. Centro América FM

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Foto: Divulgação

Os indígenas da aldeia Paranoá, a cerca de 600 km de Cuiabá, na Serra do Roncador, estão isolados desde o início da pandemia. A cidade mais próxima da região é Barra do Garças, a 112 km da aldeia. No entanto, por falta de recursos e transporte, eles relatam que estão passando fome.

Na aldeia, vivem cerca de 80 indígenas.

Em nota, a Fundação Nacional do índio (Funai) informou que publicou uma instrução normativa no Diário Oficial da União (DOU) que veda o transporte de indígenas para atendimento de demandas de interesse particular, exceto em situação de emergência devidamente justificada, o que não ocorreu no caso citado, segundo a instituição.

“Sobre as dificuldades de deslocamentos dos indígenas, a Funai esclarece que está em articulação intersetorial a fim de viabilizar a operacionalização um sistema de transporte público para as populações indígenas da região”, diz.

A prefeitura de Barra do Garças informou que na próxima semana enviará uma equipe à aldeia para tentar ajudar com estudo, transporte e alimentação.

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Heroína Rewanhiré, de 93 anos, contou que as famílias têm passado por diversas dificuldades há anos, mas a situação piorou durante o período da pandemia.

Ela é irmã de Mário Juruna, o primeiro indígena brasileiro a se tornar deputado federal. Ele morreu em 2002, e a irmã Heroína continua lutando pela sobrevivência.

A viagem da aldeia até a cidade de Barra do Garças dura mais de 2 horas, dependendo das condições da estrada.

“Uma coisa que me deixa triste é a falta de mantimentos. A pessoa fica pedindo e o outro vai dando e daí acaba. Sem transporte, fome, porque nós sempre passando fome?”, questionou um índio que não quis ter a identidade divulgada.

A população depende de doações de cestas básicas, pois o solo da aldeia não é favorável ao plantio.

A única maneira de sobreviver é encarar a estrada para buscar comida na cidade. No entanto, a aldeia não tem carro próprio e depende da ajuda da Funai ou de caminhões de frete.

Durante a pandemia, a situação piorou. A denúncia dos indígenas é que a Funai não oferece carro ou motoristas para ajudar no transporte.

A Funai disse que, na região de Barra do Garças, o transporte dos índios é feitos pela Coordenação Regional Xavante, no entanto, a entidade atende cerca de 18 mil indígenas da etnia Xavante que vivem em sete Terras Indígenas e 321 aldeias.

“As viaturas na Coordenação são utilizadas para apoio geral às comunidades. As atividades realizadas dizem respeito, por exemplo, à distribuição de alimentos para garantir a segurança alimentar das comunidades, implementação e acompanhamento de projetos voltados ao etnodesenvolvimento e transporte de indígenas em situação de vulnerabilidade social”, explica.

Em algumas situações, os índios precisam desembolsar até R$ 500 para pagar frete, o que é muito para quem depende de bolsa família ou recebe um salário e sustenta mais de uma casa.

Mauro Ferreira trabalha em um instituto de proteção ambiental no Portal do Roncador. Ele tem ajudado a aldeia com doações e campanhas.

“A gente trabalha há algum tempo com essa aldeia e estamos vendo essa dificuldade, que está cada dia mais grave. Com essa questão da Covid, ficou pior, pois ficaram isolados. Não tem carro, não tem recurso, internet”, relatou.

Para conseguir usar o celular, os índios precisam andar pelo menos 10 km até a fazenda mais próxima par conseguir sinal.

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