Dados da terceira edição das Cartografias da Violência na Amazônia de Mato Grosso, produzidos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto Mãe Crioula, apontam que a presença de facções criminosas tem impactado gravemente a segurança pública no Estado. No estado, municípios como Nova Santa Helena e São José do Rio Claro figuram entre os mais violentos da Amazônia Legal, devido à atuação de grupos como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC).
Nova Santa Helena, a 622 km ao norte de Cuiabá, ocupa a sétima posição no ranking das cidades mais violentas da Amazônia Legal, com uma taxa alarmante de 102,3 óbitos por 1.000 habitantes. O município registra a presença da Tropa do Castelar, uma dissidência do CV, conhecida por sua violência e por atrair integrantes mais jovens. Já São José do Rio Claro, a 315 km da capital, está em oitavo lugar no ranking, com 100,1 mortes violentas por 1.000 habitantes. Na cidade, facções como o CV e o PCC disputam espaço, trazendo insegurança para os 14.911 moradores.
De acordo com o estudo, o Comando Vermelho mantém domínio isolado em 129 municípios da Amazônia Legal, enquanto o PCC controla 28 cidades. Em outros 85 municípios, incluindo os de Mato Grosso, há registro de atuação simultânea de duas ou mais facções, aumentando a tensão territorial e os índices de violência.
A expansão dessas organizações está atrelada ao fortalecimento do tráfico de drogas e à exploração ilegal de recursos naturais. Em Mato Grosso, portos estratégicos e rotas fluviais são usados como corredores para o escoamento de entorpecentes, o que atrai a atenção de facções. A disputa por territórios também inclui áreas de garimpo ilegal, onde grupos criminosos atuam como “seguranças” ou controlam diretamente a extração de ouro e cassiterita.
A crescente apreensão de drogas é outro reflexo da presença das facções. Em 2023, Mato Grosso contribuiu para o volume recorde de 70 toneladas de cocaína apreendidas na Amazônia Legal, mais que o triplo do total recolhido em 2022. O mesmo padrão se observa com a maconha, cuja apreensão atingiu 166,9 toneladas no mesmo ano, mais que o dobro de 2022.
O levantamento também aponta que dissidências dentro das facções podem intensificar os índices de violência em municípios mato-grossenses. A divisão interna entre grupos como o CV e a Tropa do Castelar eleva as taxas de mortes violentas intencionais, que incluem homicídios, latrocínios e mortes causadas por policiais.
Entre as cidades mato-grossenses mais afetadas, Nova Maringá, com 96,5 mortes por 1.000 habitantes, também aparece no ranking das dez localidades mais violentas da Amazônia Legal. A situação evidencia a necessidade urgente de políticas públicas e estratégias de segurança para mitigar o impacto das facções no estado.
O estudo ressalta que, enquanto a estabilização de territórios por facções pode reduzir temporariamente a violência, a luta por controle e as dissidências entre grupos representam um desafio contínuo para o poder público. Mato Grosso, inserido na rota do tráfico e cercado por áreas estratégicas, deve intensificar esforços para proteger suas comunidades e conter a escalada do crime organizado.