Covid-19 agrava adoecimento e mata jornalistas em Mato Grosso

Fonte: Fátima Lessa jornalista com mestrado em Política Social pela UFMT

luto no jornalismo

Pelo menos 150 trabalhadores da comunicação de Mato Grosso, entre jornalistas e radialistas, testaram positivo para a Covid-19 entre o início da pandemia em março de 2020 a março deste ano. Deste total, treze morreram e seis estão intubados, em coma, em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em hospitais da capital e do interior.

A primeira morte foi registrada em Rondonópolis. No dia 27 de junho de 2020, morreu Paulo Iran, 56 anos, por Covid-19. Naquele dia o estado registrava 13.406 novos casos da doença e 504 óbitos.

Nos meses seguintes, os comunicadores em Mato Grosso, entre radialistas e jornalistas, foram alvos. Cobrindo os casos dessa doença, assustadora e pouco conhecida, em hospitais, nas ruas, nas coletivas presenciais com autoridades etc não tinham como ser diferente. E os casos foram surgindo.

As redações silenciavam com a implantação obrigatória do trabalho remoto, mas não foi o suficiente para evitar novos casos e mortes. Existem funções que exigem a presença do profissional no local do fato e ai o bicho pegou e continua pegando.

[Continua depois da Publicidade]

Em setembro de 2020, morreu, na madrugada de um sábado, dia 12, João Batista Pereira, 56 anos, de Juína. Em outubro, no dia 23, morria o fotojornalista Lenine Martins, 64 anos. No dia 15 de dezembro, morreu Nilson Rachid, 68 anos, em Rondonópolis. Em 2021, já foram registradas seis mortes de jornalistas por Covid-19.

Os dados fazem parte de um levantamento realizado por meio de pesquisas em jornais (online) e sites, e através de ligações pelo aplicativo whatsApp com jornalistas da capital e do interior em todo estado.

Há uma subnotificação grande. Os números de infectados e afastados pela doença não são divulgados, na maioria das vezes, nem para os colegas de trabalho. Cabe ao adoentado avisar aos amigos. Os números acima foram conseguidos com o compromisso da não divulgação dos nomes das fontes, da empresa e dos órgãos públicos.

Um exemplo que podemos citar é o de um município no qual no total de 50 trabalhadores em três TVs diferentes, 22 testaram positivo para Covid-19. “Mas todos foram casos leves”, disse uma das fontes.

Nos órgãos públicos a situação não é diferente. Em um deles, de oito quatro testaram positivo, “mas foram recuperados e não precisou serem internados”. Os números e as explicações se repetem em sites e rádios. Mesmo com alguns casos registrados, as emissoras de rádios foram os veículos que menos registraram casos de Covid-19.

O levantamento revelou que o novo coronavírus atingiu comunicadores da mídia tradicional jornais (papel e site), rádios, TVs e outras plataformas, órgãos públicos estadual, federal, municipal, executivo e legislativo. No total de infectados em Mato Grosso também foram incluídos os jornalistas freelancer e os autônomos. A situação nas cidades do interior do Estado, onde as condições de trabalhos são mais precárias, é crítica.

Adoecimento agravado e mortes

As doenças que sempre afetaram jornalistas – ao longo da história da imprensa – foram potencializadas pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS).

Os profissionais ouvidos relatam problemas de angustia, fadiga, medo, raiva, nervosismo etc. “Além de divulgar dados e entrevistar familiares, ainda precisamos lidar com a morte dos colegas”, disse um entrevistado.

Convivendo com tantas mortes, o jornalista que diariamente acompanha os casos tem muitas vezes medo e podendo chegar ao extremo de surtar.

Estes sentimentos são percebidos com mais força entre os jornalistas que adoeceram e voltaram para o trabalho. Muitos falam das sequelas da doença, comuns em todos que conseguiram vencê-la, tais como esquecimento, dores, problemas cardíacos, rins etc.

[Continua depois da Publicidade]

“Fui infectado, fiquei 15 dias afastado, e hoje estou todo sequelado estou sob medicação, tenho comprometimento do pulmão, estou hipertenso”, contou o jornalista Perteson Paulo.

VÍTIMAS FATAIS DA COVID – 19

Paulo Iran, de 56 anos, em Rondonópolis.
Morreu, de madrugada, dia 27 de junho de 2020. Ele estava internado numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) onde estava internado há mais de 18 dias com testagem positiva para o novo Coronavírus (Covid-19), em Rondonópolis. Comandava o programa Paradão Sertanejo, na rádio 105 FM.

João Batista Pereira, 56 anos, de Juína.
Morreu na manhã de um sábados, 12 de setembro de 2020. O Jota Batista, como era carinhosamente apelidado pelos colegas, é considerado um dos ícones da comunicação do município de Juína (742 quilômetros de Cuiabá) na década de 90 e início dos anos 2000. Ele estava internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital em Cuiabá. Trabalhou em emissoras de rádio e TV em Juína. Ele também apresentava um programa de TV na cidade, onde conquistou o carinho da população com seu carisma e profissionalismo.
(Olhar Direto)

Lenine Martins, 64 anos, de Cuiabá.
O fotojornalista Lenine Martins de Oliveira, morreu no dia 23 de outubro, era uma sexta-feira, vítima da Covid-19. Estava internado no dia 1º de outubro. No dia 6, seu quadro piorou e ele foi para UTI, onde foi intubado. Além da Covid-19, o fotógrafo está com pneumonia bacteriana. Servidor efetivo atuou por 41 anos na Secretaria de Comunicação do Estado. Mesmo após a aposentadoria continuou fotografando e permaneceu no Estado como funcionário comissionado entre os anos de 2014 a 2019. Ele começou a trabalhar para o governo na gestão de José Fragelli, entre os anos de 1971 e 1975. Na época, um funcionário da assessoria de imprensa do então governador. Tornou-se fotógrafo no governo de Frederico Campos, entre 1979 e 1983.
(SecomMT/G1MT)

Nilson Rachid, 68 anos, dezembro, Rondonópolis
Morreu a noite, dia 15 de dezembro de 2020, uma terça-feira. Natural de Aquidauana, interior de Mato Grosso do Sul chegou em Mato Grosso no início dos anos 90. Com uma história voltada à comunicação, Rachid dedicou mais de 30 anos ao rádio. Ele era um dos mais importantes radialista de Mato Grosso, e trabalhou em várias emissoras de rádio e TV como a Rádio Juventude, TV Cidade Record, TV Rondon e a Rádio Clube. A voz marcante fez com que o profissional fosse conhecido como “Canhão do Rádio”. (Globo Esporte/Globo).

Paulo Becker, 64 anos, Juara
Morreu dia 26 de fevereiro de 2021, uma sexta-feira. Jornalista e apresentador do ‘Balanço Geral’, da TV Amplitude de Juara, em Mato Grosso. Internado desde o início de fevereiro, o comunicador ficou 12 dias na UTI. (IstoÉ)

Renan Dimuriz, 58 anos, Guarantã do Norte
O ator e comunicador Renan Dimuriez, 58 anos, morreu, na noite do dia 4 de março, em um hospital de Sorriso, onde estava há cerca de 35 dias. Atualmente, era agente de comunicação e coordenador de Cultura em Guarantã do Norte. Ele contraiu Covid em outubro de 2020 e teve complicações, ficou com a imunidade baixa, insuficiência respiratória e outras sequelas. Após exame, foi constatado comprometimento pulmonar. Ele foi internado em Sorriso e também contraiu pneumonia, sendo encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva e não resistiu. (SóNoticias)

Elisângela Neponuceno, 47 anos, Cuiabá.
A jornalista Elisângela Neponuceno, 47 anos, proprietária dos sites MT de Fato e Nobres Notícias, morreu na madrugada do dia 7 de março de 2021. Era um domingo. Ela estava internada desde o início da semana no Hospital de Referência da Covid-19, antigo Pronto-Socorro de Cuiabá, foi intubada, porém, naquela madrugada sofreu duas paradas cardíacas, os médicos tentaram reanimá-la por mais de 40 minutos, sem êxito.
Elisângela foi infectada pela primeira vez em setembro de 2020. Teve 75% do pulmão comprometido e ficou internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), do Pronto-Socorro de Cuiabá, Hospital referência da Covid-19. Ela deixa três filhos, um deles é o jornalista Américo Lucas Neponuceno.

Rosivaldo Sena, 65 anos, Cuiabá
Morreu no dia 22 de março de 2021, vitima de Covid. Era início da tarde. Ele estava internado em uma UTI da Clínica Femina. Sena era um dos mais antigos jornalistas de Mato Grosso. Durante cerca de 40 anos, teve atuação em veículos de comunicação de Cuiabá, sendo a maior parte desse tempo no Diário de Cuiabá. No jornal impresso, ele atuou em várias editorias, entre eles, as de Polícia, Cidades e de Esportes. Foi auxiliar de Redação. Aposentado, mas continuava contribuindo com o jornal. Ele deixou mulher e três filhos. (Diário de Cuiabá)

Ary Bob Lee, 57 anos, Cuiabá.
Morreu no dia 25 de março de 2021. Era uma quinta-feira. Considerado um dos precursores da rádio FM em Mato Grosso, o jornalista e radialista Ary Bob Lee, de 57 anos, morreu vítima da Covid-19 em Cuiabá, nessa quinta-feira (25). Bob atuou durante alguns anos no Grupo Gazeta de Comunicação. Na Revista Ispia documentou boas histórias sobre a cultura mato-grossense. (RDNEws)

Liliane Leal, em Alta Floresta.
Morreu no dia 28 de março de 2021. Era um domingo. Trabalhou na secretaria de Comunicação da Prefeitura de Cuiabá, na administração de Mauro Mendes. Ela estava internada e não resistiu às complicações da Covid-19. Ela deixa 3 filhos.

CenárioMT - Publicamos notícias diariamente no portal! Notícias em primeira-mão e informações de bastidores sobre o que acontece em Mato Grosso.