Um grupo de jovens indígenas de Brasnorte, Mato Grosso, encontrou no cinema uma poderosa ferramenta para narrar suas próprias histórias e perspectivas únicas, algo que consideram impossível de ser plenamente capturado por olhares externos. Assim nasceu o Coletivo Ijã Mytyli de Cinema Manoki e Mỹky, um projeto que já levou produções audiovisuais locais a festivais de cinema ao redor do mundo, acumulando reconhecimento e prêmios.
A mais recente obra do coletivo é o documentário “Anfitriões há Meio Século”, que apresenta a visão dos jovens sobre a história do povo Mỹky e suas lutas pela demarcação e proteção de seu território ancestral. O idealizador do Coletivo e cineasta responsável pela obra, Typju Mỹky, viajou até Nova Iorque para o pré-lançamento do filme na última sexta-feira (25), durante a 5ª Mostra Indígena da CLACPI, um evento paralelo ao 24º Fórum Permanente de Assuntos Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU). O lançamento oficial no Brasil está previsto para este mês de maio, no CineSesc, em São Paulo.
Apesar de o coletivo ser formado por jovens cineastas mato-grossenses e de o estado ser o berço de suas produções, um lançamento local ainda não foi viabilizado. Essa é uma aspiração dos integrantes do coletivo, que buscam parcerias e financiamento para exibir o documentário também em Cuiabá. A dificuldade em obter apoio em seu próprio estado contrasta com o sucesso que o coletivo tem alcançado além das fronteiras brasileiras.
A História Contada por Quem a Vive
O Coletivo Ijã Mytyli de Cinema Manoki e Mỹky foi oficialmente fundado em 2016, com a missão de reunir e incentivar jovens indígenas a produzirem filmes que retratem sua própria realidade. O nome do coletivo carrega significado na língua dos participantes: Ijã, que significa história ou caminho, e Mytyli, que traduz novo ou jovem. Essa nomenclatura reflete a proposta do grupo de apresentar, através da perspectiva dos jovens cineastas, a maneira como sua cultura é compreendida por aqueles que cresceram imersos nela, com as histórias sendo contadas pelas próprias pessoas, com o respeito inerente a essa vivência.
O projeto tem como fundador Typju Myky, cujo primeiro contato com o universo audiovisual ocorreu em 2015, quando o antropólogo André Tupxi Lopes conduziu uma oficina de vídeo na aldeia Japuíra Mỹky para os jovens da comunidade.
Esse evento intensificou sua ligação com o audiovisual, motivando-o a seguir essa trajetória. Atualmente, além de cineasta, Typju cursa pedagogia intercultural indígena na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) em Barra do Bugres.
Com nove anos de existência, o Coletivo Ijã Mytyli conta com a participação ativa de 15 jovens, que se dividem nas diversas etapas das produções audiovisuais.
As produções do coletivo já acumularam premiações em diversos festivais, como o 10° Cine Kurumin, onde uma produção conquistou o prêmio de melhor longa-metragem em 2021. Na Mostra de Audiovisual Universitário e Independente da América Latina (Maual), duas produções foram premiadas em 2023, nas categorias de melhor curta brasileiro independente experimental e melhor roteiro híbrido.
Apesar do reconhecimento internacional, o coletivo enfrenta desafios significativos, sendo a questão financeira a principal delas. Equipamentos como câmeras e softwares de edição possuem custos elevados, mas, mesmo diante dessas dificuldades, os jovens cineastas permanecem dedicados à sua arte e à missão de contar suas histórias.