O preço da carne bovina subiu pelo terceiro mês consecutivo em novembro, registrando uma alta acumulada de 15,43% nos últimos 12 meses. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta terça-feira (10) pelo IBGE. Essa tendência preocupa consumidores, já que a elevação afeta diretamente o custo de vida.
Cortes que mais subiram
Entre os cortes bovinos, o patinho liderou os aumentos no período, com uma elevação de 19,63%, seguido por acém (18,33%), peito (17%) e lagarto comum (16,91%). Por outro lado, o fígado foi o único corte a registrar redução de preço, apresentando queda de 3,61%.
No mês de novembro, o aumento mensal foi de 8,02%, o maior desde dezembro de 2019, quando a alta atingiu 18,06%. Especialistas apontam fatores como o ciclo pecuário, mudanças climáticas, crescimento nas exportações e aumento da renda interna como os principais responsáveis pela elevação nos preços.
Fatores por trás da alta dos preços
Economistas identificam quatro fatores principais que explicam o aumento significativo no preço da carne bovina:
- Ciclo pecuário: Após dois anos de muitos abates, a oferta de bois começa a diminuir, restringindo a produção.
- Clima: Secas e queimadas prejudicaram a formação de pastos, encarecendo a alimentação dos rebanhos.
- Exportações: O Brasil, maior exportador mundial de carne bovina, continua batendo recordes de vendas externas, reduzindo a oferta interna.
- Aumento de renda: A queda no desemprego e o aumento do salário mínimo estimularam a compra de carnes pelos brasileiros.
Previsões para 2025 e 2026
Segundo especialistas, a tendência de preços elevados deve persistir até 2026, impulsionada pelo ciclo da pecuária. Com a redução no número de bezerros nascidos nos últimos anos, a produção enfrenta um atraso significativo. Animais nascidos em 2025 só estarão prontos para abate em 2027 ou 2028.
As mudanças climáticas também desempenham um papel crucial, com secas mais frequentes dificultando a formação de pastagens. Além disso, a demanda internacional por carne bovina brasileira permanece elevada. Em outubro, o Brasil exportou 301.166 toneladas de carne, o maior volume para o mês desde 1997, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
Impacto do acordo Mercosul-UE
O recente acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que prevê a redução de tarifas para exportação de carne ao bloco europeu, também pode influenciar os preços no futuro. Embora ainda não tenha data definida para entrar em vigor, o acordo deve aumentar ainda mais a competitividade da carne brasileira no mercado global, reduzindo a oferta interna.
Inflação e Selic
O aumento nos preços da carne contribui para a alta da inflação, que se reflete diretamente no bolso dos consumidores. Contudo, o economista André Campedelli, em entrevista recente, destacou que a Selic, principal ferramenta do Banco Central para controle inflacionário, não é eficaz nesse cenário. “A Selic não vai fazer o boi engordar e não vai conseguir mexer no preço do açougue”, afirmou.
Segundo Campedelli, a inflação de alimentos exige abordagens diferentes, incluindo incentivos à produção e medidas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Com a próxima reunião do Copom, marcada para esta quarta-feira (11), o mercado segue atento às decisões sobre a taxa básica de juros.
Como consumidores podem se adaptar
Diante dos preços elevados, os consumidores têm procurado alternativas para manter o consumo de proteínas em sua dieta. Entre as estratégias estão:
- Substituir cortes nobres por cortes mais acessíveis.
- Optar por proteínas de origem vegetal, como feijão, lentilha e grão-de-bico.
- Aproveitar promoções em mercados e açougues.
- Comprar diretamente de produtores locais, que podem oferecer preços mais competitivos.
Perspectivas para o mercado de carne
Embora os preços devam se manter altos no curto prazo, analistas acreditam que o setor pode se equilibrar a médio e longo prazo com investimentos em tecnologia e aumento na produtividade. O desenvolvimento de pastagens mais resistentes às mudanças climáticas e o incentivo à pecuária sustentável são estratégias que podem ajudar a estabilizar os preços e garantir a segurança alimentar no país.
No entanto, com a demanda externa em alta e o ciclo pecuário em um momento de baixa oferta, os consumidores brasileiros continuarão enfrentando desafios no acesso à carne bovina a preços mais acessíveis.
Enquanto isso, iniciativas governamentais, como o monitoramento do impacto das exportações no mercado interno, serão cruciais para garantir que os preços não comprometam ainda mais o poder de compra das famílias brasileiras.