O número de lares brasileiros com insegurança alimentar grave caiu 19,9% em um ano, segundo dados divulgados pelo IBGE. Em 2023, 3,1 milhões de domicílios viviam em situação de fome extrema; em 2024, o número recuou para 2,5 milhões. O levantamento integra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua sobre segurança alimentar.
O estudo aponta que a proporção de famílias em insegurança alimentar grave passou de 4,1% para 3,2% dos domicílios. Ao mesmo tempo, a segurança alimentar avançou de 72,4% para 75,8% dos lares, totalizando 59,4 milhões de famílias com acesso garantido a alimentos sem sacrifícios.
De acordo com o IBGE, a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia) divide a situação dos lares em quatro níveis: segurança alimentar, insegurança leve, moderada e grave — esta última quando a fome é realidade também entre crianças.
Melhora impulsionada por renda e programas sociais
A pesquisadora Maria Lucia França Pontes Vieira destacou que a queda da insegurança alimentar está relacionada à recuperação do mercado de trabalho e ao fortalecimento de programas sociais. “A renda, seja proveniente do trabalho ou de programas assistenciais, é fundamental para garantir o acesso aos alimentos”, afirmou.
Entre 2023 e 2024, todas as categorias de insegurança alimentar recuaram: leve (de 18,2% para 16,4%), moderada (de 5,3% para 4,5%) e grave (de 4,1% para 3,2%).
Menor índice histórico
O Brasil atingiu em 2024 o menor nível já registrado de insegurança alimentar moderada e grave: 7,7% dos domicílios. Desde 2004, o índice vinha oscilando entre 16,8% e 9,4%, com o pico negativo em 2017/2018, durante a crise econômica.
O levantamento revela ainda que a segurança alimentar voltou a níveis próximos ao recorde de 2013 (77,4%), consolidando 2024 como o segundo melhor resultado histórico.
Desigualdades regionais persistem
Apesar da melhora geral, o estudo mostra que a insegurança alimentar é mais acentuada no campo: 31,4% dos domicílios rurais enfrentam algum grau de dificuldade para garantir comida, contra 23,2% nas áreas urbanas. Segundo o IBGE, o acesso à terra não garante variedade e quantidade de alimentos suficientes para as famílias.
Regionalmente, o Norte e o Nordeste seguem com índices acima da média nacional. A proporção de domicílios com insegurança alimentar moderada ou grave é de 14,1% no Norte e 12,3% no Nordeste. Já no Sul, o percentual é de apenas 3,8%.
Os estados com maior segurança alimentar são Santa Catarina (90,6%), Espírito Santo (86,5%) e Rio Grande do Sul (85,2%). Na outra ponta, Pará (55,4%), Roraima (56,4%) e Piauí (60,7%) apresentam os piores índices.
Brasil fora do Mapa da Fome
O avanço nos indicadores levou o Brasil a sair novamente do Mapa da Fome da ONU, que lista países com mais de 2,5% da população em subalimentação grave. A conquista ocorre após o governo federal priorizar políticas de combate à fome e articular a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa que será tema do Fórum Mundial da Alimentação, em Roma.