O Pantanal, maior planície de inundação contínua do planeta, perdeu 75% de suas áreas permanentemente alagadas entre 2015 e 2024 — o equivalente a 1,2 milhão de hectares. O levantamento, divulgado pelo MapBiomas no Dia do Pantanal, aponta que o bioma vive a maior seca das últimas quatro décadas, com 15,2% do território já tomado por atividades humanas como pastagem, aquicultura e mineração.
De acordo com o relatório, o Pantanal está intimamente conectado aos biomas Cerrado e Amazônia, que compõem o planalto responsável pelo fluxo das águas que abastecem a planície. O estudo abrange a Bacia do Alto Paraguai (BAP), que se estende por Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e revela a perda acelerada de vegetação nativa entre 1985 e 2024.
Na porção sul-mato-grossense da BAP, as áreas naturais caíram de 79% para 61% em 40 anos, resultado da expansão da agricultura e das pastagens. Em Mato Grosso, o cenário é ainda mais grave: a vegetação nativa recuou de 80% para 58%, com aumento de 216% da agricultura, dominada pela soja, que ocupa 80% das plantações.
O bioma apresenta seis tipos principais de formações naturais, entre florestas, savanas e áreas alagadas, que juntas somam mais da metade de sua cobertura. Em contrapartida, o avanço humano ocupa mais de 2,2 milhões de hectares, com destaque para a pecuária.
Entre os relatos humanos, a história de Leonida de Souza, a primeira mulher brigadista do Pantanal, sintetiza a luta de comunidades tradicionais diante da crise ambiental. Indígena guató e quilombola, Eliane, como é conhecida, afirma observar os efeitos das mudanças climáticas no cotidiano: rios baixos, chuvas escassas, peixes escassos e calor extremo. Para ela, as transformações “são quase irreversíveis”.
Especialistas também apontam que a proliferação de hidrelétricas no alto curso dos rios é um dos principais fatores de desequilíbrio hídrico no Pantanal. Segundo o pesquisador Geraldo Damasceno Junior, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, a retenção das águas reduz o fluxo natural e ameaça o ciclo vital das inundações.
Em resposta, instituições como a Wetlands International Brasil e a Universidade Federal do Rio de Janeiro criaram o Sistema de Inteligência do Fogo em Áreas Úmidas (Sifau), que monitora incêndios e riscos climáticos quase em tempo real. A diretora da Mupan, Áurea Garcia, defende que a conservação depende da união entre ciência, políticas públicas e o fortalecimento das comunidades locais.
“Neste Dia do Pantanal, fazemos um chamamento para que governos e organismos internacionais reconheçam esse bioma como essencial à vida e à estabilidade ambiental”, reforça Áurea.


















