O que explica o aumento da inadimplência?
De acordo com o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL Cuiabá), Júnior Macagnam, o crescimento no número de endividados acende um sinal de alerta nada discreto. “Manter o acesso ao crédito é uma questão de cidadania, por isso esses números mostram que as famílias mato-grossenses estão se superendividando”, disparou.
E ele não está exagerando. Quando olhamos o cenário de forma mais ampla, vemos que a tendência é nacional. Em relação a março de 2024, a inadimplência em Mato Grosso subiu 1,4%, alinhada à alta observada no Centro-Oeste (+7,33%) e no Brasil inteiro (+3,89%). Só que, na comparação mês a mês, Mato Grosso ficou acima da média regional (+1,73%) e nacional (+1,54%). Ou seja: a bomba está prestes a estourar primeiro por aqui.
Onde estão concentradas as dívidas?
Uma análise mais minuciosa revela que o setor bancário continua sendo o grande vilão — ou herói, dependendo do ponto de vista — do endividamento. Em março, ele respondeu por impressionantes 50,96% das dívidas em Mato Grosso. Em seguida, aparecem o comércio (23,87%) e contas básicas, como água e luz (12,08%).
Uma curiosidade: comércio teve queda nas dívidas
Embora o comércio ainda pese no bolso do consumidor, ele registrou uma diminuição nas dívidas: -2,33% em março, acumulando um decréscimo de -7,98% em relação a março de 2024. Uma andorinha só não faz verão, mas é um alívio simbólico em meio ao mar de dívidas.
O tamanho da encrenca: 6,37 bilhões de reais
Somados, os débitos dos inadimplentes mato-grossenses já ultrapassam R$ 6,37 bilhões. Para ter uma ideia do buraco, é como se cada consumidor negativado tivesse uma dívida média de R$ 5,2 mil — o suficiente para comprar uma motocicleta novinha ou investir em um curso de graduação.
Quem são os inadimplentes?
O perfil do devedor também chama atenção. A maioria (53,68%) é formada por homens, com idade média de 43,5 anos. A faixa etária mais atingida vai dos 30 aos 49 anos, somando quase metade (48,89%) dos inadimplentes cadastrados.
Por que essa faixa etária?
É simples: são pessoas em plena fase produtiva, com responsabilidades financeiras pesadas — casa, filhos, carro, plano de saúde — mas que, diante de um cenário econômico instável e crédito caro, acabam sendo engolidas pela maré da inadimplência.
Como sair dessa enrascada?
Renegociação é a palavra mágica
Segundo Macagnam, o caminho mais sensato para quem está com o nome sujo é buscar renegociar. “É importante lembrar que os consumidores podem e devem procurar as empresas para tentar renegociar“, reforçou o presidente da CDL Cuiabá.
Onde e como renegociar?
- Diretamente com as empresas: Muitas oferecem descontos para pagamento à vista ou parcelamentos amigáveis.
- CDL Cuiabá: A entidade oferece serviços de apoio à renegociação de dívidas. Basta entrar em contato e agendar um atendimento.
- Aplicativo “SPC Consumidor”: Disponível para Android e iOS, permite consultar pendências e negociar dívidas diretamente com as empresas.
Educação financeira: um remédio que previne e cura
Mais do que remediar, é preciso atacar o problema na raiz. E isso passa obrigatoriamente pela educação financeira. Aprender a controlar os gastos, poupar, planejar o orçamento mensal e entender o impacto dos juros compostos são passos básicos, mas poderosos, para evitar o sufoco do nome sujo.
Pequenas atitudes, grandes resultados:
- Anote tudo que gasta: Da bala no semáforo ao supermercado da semana.
- Priorize as dívidas essenciais: Água, luz, aluguel e alimentos vêm antes do lazer.
- Evite parcelamentos longos: Eles são armadilhas que parecem inofensivas, mas pesam no orçamento.
- Reserve uma parte para emergências: Nem que seja R$ 10 por mês, o importante é criar o hábito.
Inadimplência é problema de todos nós
Quando quase metade da população de um estado está com o nome sujo, não estamos falando apenas de problemas individuais. É um sintoma social, um sinal de que a economia precisa de atenção, de que os salários não acompanham o custo de vida e de que a educação financeira ainda é uma ferida aberta.
Seja você um consumidor em dia ou alguém que luta para limpar o nome, a inadimplência é um alerta que diz respeito a todos nós. E quanto mais cedo encararmos esse desafio de frente, mais cedo veremos um Mato Grosso — e um Brasil — de crédito limpo e oportunidades abertas.