A Polícia Federal (PF) concluiu que o general Braga Netto foi uma “figura central” na articulação de estratégias para desacreditar o sistema eleitoral durante o governo de Jair Bolsonaro.
As informações constam em um relatório encaminhado nesta quarta-feira (18) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), como parte das investigações sobre uma tentativa de golpe de Estado.
O documento foi elaborado após análise do celular do coronel do Exército Flávio Botelho Peregrino, ex-assessor de Braga Netto, que também foi ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022.
Braga Netto está preso desde dezembro de 2024, acusado de obstruir as investigações e tentar acessar informações sigilosas da delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
“As trocas de mensagens confirmaram a atuação do general Braga Netto como uma figura central para a implementação das estratégias visando desacreditar o sistema eleitoral e o pleito de 2022”, destaca o relatório da PF.
De acordo com a investigação, foram encontradas mensagens em um grupo de WhatsApp chamado Eleições 2022, formado por seis pessoas, entre elas Braga Netto e Peregrino.
O grupo teria elaborado um documento com informações falsas sobre supostas fraudes nas urnas eletrônicas. O material seria entregue ao então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para sugerir a possibilidade de manipulação dos resultados.
A PF também aponta que dados falsos foram utilizados para embasar a ação judicial movida pelo PL, partido de Bolsonaro, que questionava o resultado do primeiro turno das eleições de 2022.
O relatório ainda detalha que o grupo participou ativamente da disseminação de desinformação, por meio de “estudos falsos” que buscavam desacreditar o processo eleitoral. Esse conteúdo era repassado a influenciadores digitais alinhados ao ex-presidente, incluindo o argentino Fernando Cerimedo.
Delação de Mauro Cid
As conversas encontradas no celular de Peregrino também revelam que o ex-assessor de Braga Netto teve acesso ao conteúdo da delação premiada de Mauro Cid.
Em diálogo com um jornalista, Peregrino admitiu que recebeu informações privilegiadas.
“No caso da delação especificamente, acredito que alguém teve acesso ao Cid e já me passou as informações”, declarou.
Movimentações desde 7 de setembro
O relatório destaca ainda que o “intento golpista” já estava presente nos atos de 7 de setembro de 2021. Na ocasião, Jair Bolsonaro atacou ministros do STF e declarou que não cumpriria decisões judiciais de Alexandre de Moraes.
Mensagens trocadas entre Braga Netto e Mauro Cid revelam que ambos tinham consciência da gravidade das ações planejadas, cujo objetivo seria subverter o regime democrático.
Os diálogos abordam a carta à nação divulgada em 9 de setembro de 2021, na tentativa de minimizar as declarações de teor golpista feitas dois dias antes.
Na conversa, Mauro Cid escreveu: “PR [Bolsonaro] apanhando muito. Tomara que não venham migalhas. Já vi esse mesmo filme 2 vezes. E o PR ficou chupando dedo”. Braga Netto respondeu: “Você me falou. Mas agora nós podemos virar a mesa porque ele fez tudo para apaziguar”.
Em outro trecho, o general sinaliza uma possível ruptura institucional: “Se não cumprirem, ele abre o jogo e viramos com ele. Os Cmts [comandantes] estão cientes. Ele vai para mídia conta o combinado e rompemos”, afirmou.
Defesa nega participação
Na semana passada, Braga Netto prestou depoimento a Alexandre de Moraes e negou qualquer envolvimento na trama golpista.
Está marcada para a próxima terça-feira (24) uma acareação entre Braga Netto e Mauro Cid, solicitada pela defesa do general.
Os advogados argumentam que é necessário esclarecer acusações que envolvem, entre outros pontos, a suposta participação de Braga Netto no plano denominado Punhal Verde e Amarelo, que previa ações violentas contra autoridades, além de suspeitas sobre o repasse de dinheiro em uma sacola de vinho para militares do chamado “esquadrão de elite”.
Durante o depoimento, o general negou conhecer o plano e também rejeitou a acusação de ter entregue dinheiro a Mauro Cid.