Em meio às operações policiais nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, governadores de direita se uniram ao projeto “Consórcio da Paz”, uma iniciativa voltada à integração estadual no combate ao crime organizado.
O sociólogo Ignacio Cano, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), critica a nomenclatura. Segundo ele, o termo distorce a gravidade da operação que resultou em 121 mortes. Cano afirma que o nome correto seria “Consórcio da Morte”, refletindo a letalidade promovida por alguns governos estaduais.
O grupo é formado por Cláudio Castro (RJ), Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Jorginho Mello (SC), Eduardo Riedel (MS), Ronaldo Caiado (GO) e Ibaneis Rocha (DF).
Uso do termo ‘narcoterrorismo’
Especialistas em segurança pública e ciência política observam que expressões como “narcoterrorismo” têm sido recorrentes nos discursos desses governadores. O termo, defendem eles, é politicamente carregado e pode desviar a atenção de falhas na segurança.
Jacqueline Muniz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que tais termos escondem incompetências e oportunismos políticos. Ela destaca que eles também justificam aumento de orçamento e poderes sem a devida prestação de contas.
Cano reforça que, conceitualmente, o termo é inadequado, já que terrorismo exige motivações políticas, enquanto facções criminosas buscam lucro.
No Brasil, facções são classificadas como organizações criminosas, e qualquer tentativa de equipará-las a terrorismo, como propõe o Projeto de Lei 724/25, ainda precisa passar pela CCJ e votação na Câmara e Senado.
Pressão internacional
Governadores alinhados a políticas de direita seguem exemplos de países como Argentina e Paraguai, que classificaram PCC e Comando Vermelho como organizações terroristas. Especialistas alertam que essa retórica transfere o debate da segurança pública para o campo geopolítico e pode fragilizar a democracia.
Jonas Pacheco, coordenador da Rede de Observatórios da Segurança, observa que o discurso sobre terrorismo serve como justificativa para maior intervenção internacional, sobretudo dos Estados Unidos.
Guerra às drogas
O termo “guerra” também é criticado, pois reforça narrativas de conflito que atingem principalmente comunidades vulneráveis. Segundo Cano e Muniz, a segurança pública deve priorizar a preservação da vida e atuar dentro das normas legais, sem transformar operações em espetáculos de repressão.
Os especialistas concluem que a retórica de guerra e narcoterrorismo contribui para um projeto autoritário, em que a insegurança se torna ferramenta política e o medo da população legitima restrições a direitos individuais.















