A resposta está enraizada em uma viagem milenar que começa muito antes de mapas astrais e aplicativos esotéricos. Vamos embarcar juntos por essa jornada que atravessa o tempo e o espaço — da poeira da antiga Mesopotâmia até o mármore branco dos templos gregos.
As estrelas falavam em acadiano: os primórdios na Mesopotâmia
O berço da astrologia
Acredita-se que a astrologia, como a conhecemos hoje, começou por volta de 3.000 a.C., nas férteis planícies da Mesopotâmia — a “terra entre rios”. Ali, os babilônios ergueram as primeiras torres de observação celeste. Suas tábuas de argila registravam eclipses, conjunções e padrões que, aos poucos, começaram a ser associados a eventos terrenos como colheitas, guerras e até epidemias.
Esses povos não viam os astros apenas como luzes no céu. Para eles, eram divindades com humor, vontade própria e influência direta sobre os mortais. Marte, por exemplo, não era apenas um planeta vermelho — era Nergal, o deus da guerra e das doenças. Quando ele aparecia mais brilhante no céu, era sinal de que tempos difíceis estavam por vir.
Da previsão agrícola ao destino dos reis
Inicialmente, a astrologia servia como ferramenta agrícola e política. Quando plantar? Quando iniciar uma batalha? Quando o rei deveria casar ou abdicar? A posição dos astros dava essas respostas — ou assim acreditavam. O zodíaco mesopotâmico era dividido em constelações fixas que se alinhavam com o Sol ao longo do ano.
Nasce o zodíaco
Por volta de 700 a.C., os astrônomos babilônicos organizaram as constelações em 12 segmentos — surgia aí a semente do zodíaco moderno. Cada segmento representava um mês solar e carregava simbolismos que seriam herdados, adaptados e poeticamente distorcidos pelos gregos mais tarde.
Da Mesopotâmia à Grécia: a astrologia ganha alma

Alexandre, o Grande e a expansão do saber
Com a chegada de Alexandre, o Grande, no século IV a.C., o saber mesopotâmico encontrou o refinamento filosófico grego. Foi uma verdadeira alquimia cultural. Os gregos, apaixonados por mitos e simetrias, deram novos nomes, formas e significados aos signos. Aquário virou o aguadeiro de Zeus; Touro, o disfarce divino para sequestrar Europa.
Hiparco e a precisão dos equinócios
No século II a.C., o astrônomo Hiparco descobriu a precessão dos equinócios — um fenômeno que mostra como a Terra muda de inclinação ao longo dos milênios. Isso afetou diretamente a astrologia, pois significava que os signos e as constelações reais estavam se afastando. Ainda assim, a astrologia grega manteve a estrutura herdada dos babilônios.
Da mitologia ao mapa astral
Os gregos foram além: ao invés de usar a astrologia apenas para reis, começaram a aplicá-la às pessoas comuns. Foi aí que surgiu a ideia do mapa natal — o retrato cósmico do céu no momento do nascimento. A ideia era simples e poética: “Diga-me onde estavam as estrelas quando você nasceu, e eu direi quem você é”.
Maio e os signos que o habitam: Touro e Gêmeos

Se voltarmos nosso olhar para o presente, vamos encontrar dois signos dominando o céu de maio: Touro (até aproximadamente 20 de maio) e Gêmeos (a partir dessa data). Mas, o que esses signos têm em comum com babilônios e gregos? Mais do que você imagina.
Touro: força, sensualidade e raízes antigas
Touro é símbolo de estabilidade, prazer, materialidade. Não à toa, representa o auge da primavera no hemisfério norte — época de fartura. Os mesopotâmios viam o touro como símbolo de poder e fertilidade. Já os gregos o associaram à lenda de Zeus e Europa, numa narrativa de paixão e travessura divina.
Gêmeos: a dualidade encantadora
Já Gêmeos nos transporta a um tempo de comunicação, movimento e curiosidade. Em seu mito grego, os irmãos Castor e Pólux representam a união entre o divino e o mortal. Um era imortal, o outro não. Quando um morreu, o outro pediu para dividir a eternidade com ele — uma metáfora poderosa sobre laços, sacrifício e dualidade.
Astrologia hoje: entre ciência, fé e algoritmo
Avançamos milênios desde a astrologia da lama e do papiro. Hoje, com poucos cliques, você descobre seu ascendente, sua Vênus em Peixes, e se Mercúrio está retrógrado. Mas por trás dessa interface digital, continua viva a mesma essência: a busca por sentido, por um fio condutor entre o caos da vida e a ordem do cosmos.
O algoritmo lê seu mapa?
Com a popularização dos aplicativos e redes sociais, a astrologia virou mainstream. Mas será que os robôs entendem o céu como os babilônios entendiam? Ou como os gregos interpretavam? Provavelmente não. Mas a boa notícia é que, mesmo com toda essa modernidade, ainda nos encantamos quando lemos: “Hoje, sua energia está propícia para recomeços”.
O que maio nos ensina olhando para trás

Maio é um lembrete sutil de que, mesmo em meio ao corre-corre da vida moderna, ainda olhamos para o céu. Ainda buscamos no firmamento respostas para as perguntas mais humanas: Quem somos? Para onde vamos? Estamos sozinhos?
A astrologia, com todas as suas imperfeições, é uma tentativa poética — e milenar — de responder isso. E enquanto o Sol transita de Touro para Gêmeos, talvez o maior presente que maio nos dá seja esse: parar, respirar e lembrar que somos poeira de estrela com um mapa nas mãos e o coração nas nuvens.
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