O objetivo do presente trabalho foi avaliar a qualidade fisiológica de sementes e o desenvolvimento inicial de plântulas de soja, cultivar NA 5909 RG tratadas com diferentes doses de Zinco (Zn).
A agricultura é um dos principais elos de desenvolvimento para o Brasil (Scolari, 2006). Somente a cultura da soja, em um período de duas décadas – 1996/97 a 2015/16, apresentou elevado crescimento de área, produção e produtividade (Balbinot Junior et al., 2017). Para que este crescimento não se torne limitado, tornam-se imprescindíveis investimentos no ramo de pesquisa e tecnologia, bem como a utilização de crescentes inovações positivas em técnicas de manejo (Scolari, 2006).
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Um dos fatores que limita o aumento da produtividade de soja é a utilização de sementes de baixa qualidade, bem como o incorreto tratamento de sementes, afetando negativamente o estande inicial de plantas e reduzindo a produtividade da cultura (França Neto et al., 2010). Devido a isso, se torna crescente o uso de micronutrientes no tratamento de sementes, visando suprir deficiências nutricionais, maximizar o desenvolvimento inicial das plântulas e aumentar o potencial produtivo das culturas, sem afetar a qualidade fisiológica das sementes (Scott, 1989).
Neste sentido, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a qualidade fisiológica de sementes e o desenvolvimento inicial de plântulas de soja, cultivar NA 5909 RG tratadas com diferentes doses de Zinco (Zn).
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Centro de Biotecnologia na Agricultura – CebtecAGRO®, no período de 20 de fevereiro a 20 de março de 2018. A fim de cumprir o objetivo proposto, utilizou-se para tratamento de sementes (TS) um produto com teor total de nitrogênio de 1,0% (17 g N/l), teor total de Zn de 40% (693 g Z/l).
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Foi utilizado o lote de sementes de soja da cultivar NA 5909 RG da safra 2016/2017 cujo não deteve nenhuma aplicação de Zn anteriormente, quer seja no solo ou na planta-mãe. Utilizaram-se sementes sem tratamento (TS) (químico/biológico), e sementes do mesmo lote que receberam o TS químico/biológico com os seguintes princípios ativos: fipronil, imidacloprid, fludioxonil e bioestimulante, conforme doses indicadas pelos fabricantes. Ambas as condições de sementes foram armazenadas em sacos de papel, condições controladas de temperatura e umidade.
O experimento caracterizou-se como bifatorial 2×4 em delineamento inteiramente casualizado (DIC), com 8 repetições. Os tratamentos foram quatro doses de Zn aplicadas às sementes (1º fator), em função de estas estarem ou não tratadas com TS químico/biológico (2º fator). As doses corresponderam a 0 g; 3,5 g; 6,9 g e 10,4 g de Zn por kg de semente. O tratamento das sementes foi realizado em sacos de polietileno conforme metodologia descrita por Nunes (2005).
As avaliações realizadas em laboratório foram: germinação em substrato papel (Brasil, 2009); e vigor – envelhecimento acelerado (Ferreira & Borguetti, 2004). As avaliações realizadas a campo foram: estande de plantas (Nakagawa, 1994); e índice de velocidade de emergência (IVE) (Vanzolini et al., 2007). Os dados coletados de cada teste foram submetidos à análise de variância e quando esta foi significativa, as médias dos tratamentos foram comparadas por teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Utilizou-se o programa estatístico Sisvar®.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para o parâmetro de germinação em substrato de papel, obteve-se diferença significativa referente à interação dos fatores analisados (Tabela 1). Pode-se perceber que com o aumento da dose de Zn ocorreu perda no potencial de germinação das sementes, sendo que para as sementes sem o TS a perda ocorreu na dose de 10,4 g, enquanto para as sementes com o TS foi observada a perda a partir da dose de 6,9 g de Zn Kg-1.
Conforme Lemes et al. (2017), o comportamento de lotes de soja, de mesma cultivar, perante diferentes doses de Zn pode diferir, havendo, em alguns casos, maior sensibilidade a altas doses deste nutriente, consequentemente sendo observada a redução do percentual germinativo das sementes
Por ser um micronutriente requerido em pequenas quantidades, o Zn pode apresentar uma estreita faixa entre o efeito considerado benéfico e a toxicidade (Malavolta, 2006). Quanto ao teste de vigor (Tabela 1), a dose de 10,4 g mostrou-se prejudicial em ambas as sementes testadas. Nas sementes sem TS as doses de 3,5 e 6,9 g se equivaleram à testemunha, enquanto nas sementes com TS, a dose de 3,5g mostrou-se superior à testemunha e as demais doses. Em sementes de arroz irrigado, tradadas com diferentes micronutrientes, o Zn ganhou destaque em resultados de incremento de vigor (Ohse, 2001).
Os testes de IVE e estande de plantas não tiveram interação significativa pelo teste F entre os fatores analisados. As condições ambientais para estes testes demonstraram ser adequadas e os diferentes tratamentos não apresentaram diferença estatísticas de potencial fisiológico.
Tabela 1 – Germinação em substrato papel e vigor envelhecimento acelerado em função de diferentes doses de zinco e sementes.
CONCLUSÃO
A dose de 10,4 g de Zn Kg-1 de semente, em lote de soja cultivar NA 5909 RG, se mostrou insatisfatória. As sementes nuas possuem menor sensibilidade com o aumento da dose de Zn, em contrapartida, sementes tratadas com inseticidas, fungicidas e bioestimulante reduzem seu potencial fisiológico a partir da dose de 6,9 g de Zn Kg-1 de semente de soja.
REFERÊNCIAS
BALBINOT JUNIOR, A. A.; HIRAKURI, M. H.; FRANCHINI, J. C.; DEBIASI, H.; RIBEIRO, R. H. Análise da área, produção e produtividade da soja no Brasil em duas décadas (1997-2016). Boletim e Pesquisa e desenvolvimento. Londrina: Embrapa Soja, 2017.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para Análise de Sementes. Brasília: Mapa/ACS, 395p. 2009.
FERREIRA G. F.; BORGUETTI, F. Germinação: do básico ao aplicado. São Paulo: Artmed, 323p. 2004.
FRANÇA NETO, J. de B.; KRZYZANOWSKI, F. C.; HENNING, A.; PÁDUA, G. P. de. Tecnologia da produção de sementes de soja de alta qualidade. Informativo ABRATES, vol. 20, nº 3, 2010.
LEMES, E. S., et al. Tratamento de sementes de soja com zinco: efeito na qualidade fisiológica e produtividade. Colloquium Agrariae, v. 13, n.2, p.76-86. 2017.
MALAVOLTA, E. Manual de nutrição mineral de plantas. São Paulo: Editora Agronômica Ceres, 638 p. 2006.
NAKAGAWA, J. Testes de vigor baseados na avaliação das plântulas. In: VIEIRA, R. D., CARVALHO, N. M. (Ed.) Testes de vigor em sementes. Jaboticabal: FUNEP, p.49-85. 1994.
NUNES, J. C. Tratamento de sementes – qualidade e fatores que podem afetar s dus performance em laboratório. Syngenta proteção de cultivos Ltda. 16p. 2005.
OHSE, S.; MARODIM, V.; SANTOS, O. S. dos; LOPES, S. J.; MANFRON, P. A. Germinação e vigor de sementes de arroz irrigado tratadas com zinco, boro e cobre. Revista da FZVA. Uruguaiana, v. 7/8, n.1, p. 41-50. 2001.
SCOLARI, D. G. Produção agrícola mundial: o potencial do Brasil. Revista da Fundação Milton Campos, Brasília, DF, 2006.
SCOTT, J. M. Seed coatings and treatments and their effects on plant establishment. Advances in Agronomy, 42, 43-83, 1989.
VANZOLINI, S.; ARAKI, C. A. dos S.; SILVA, A. C. T. M. da; NAKAGAWA, J. Teste de comprimento de plântula na avaliação da qualidade fisiológica de sementes de soja. Revista Brasileira de Sementes, vol. 29, nº 2, p.90-96, 2007
Informações dos autores:
1 Engenheira Agrônoma, Centro de Biotecnologia na Agricultura (CebtecAGRO), Mato Castelhano/RS;
2 Bióloga, Centro de Biotecnologia na Agricultura (CebtecAGRO), Mato Castelhano/RS;
3 Engenheiro Agrônomo, Sertão/RS;
4 Bióloga, Drª em Fitopatologia, Centro de Biotecnologia na Agricultura (CebtecAGRO).
Autores: Graziela Corazza1; Tamires Piran2; Maurício Maraschin Neumann3; Mirella Figueiró de Almeida4.