Plano Safra 2025/26 é lançado com R$ 516,2 bilhões, mas entidades de MT alertam para juros altos e acesso restrito ao crédito

Fonte: CenarioMT

grao de milho maos colheita
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O Governo Federal lançou nesta terça-feira (1º) o Plano Safra 2025/2026, anunciando a liberação de R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial. O volume representa um acréscimo de R$ 8 bilhões em relação ao ciclo anterior e será destinado a médios e grandes produtores, com foco em operações de custeio, comercialização e investimento.

No entanto, o anúncio foi recebido com preocupação por entidades representativas do setor em Mato Grosso, como a Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja MT) e a Federação da Agricultura e Pecuária (Famato). Ambas apontam que, embora o valor anunciado seja expressivo, os juros elevados e as dificuldades de operacionalização reduzem a eficiência da política agrícola.

As taxas de juros variam de 8,5% a 14% ao ano, patamar considerado elevado diante da queda nos preços das commodities, do aumento nos custos de produção e do elevado nível de endividamento enfrentado pelo setor. “É um recurso importante, mas que precisa ser analisado com cautela”, comentou o presidente da Famato, Vilmondes Tomain. “O produtor tem convivido com dificuldades para acessar crédito e manter a rentabilidade.”

A Aprosoja MT foi ainda mais crítica ao plano. Segundo a entidade, cerca de R$ 185 bilhões dos R$ 516,2 bilhões anunciados serão viabilizados por meio de Cédulas de Produto Rural (CPR) atreladas a Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), instrumentos financeiros privados com taxas de mercado, o que na prática reduz em 17,3% o volume de recursos com juros controlados.

Para o presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber, os aumentos nos valores não compensam a corrosão do poder de compra dos produtores. “Na prática, temos menos dinheiro disponível para contratar. Considerando que no último Plano Safra apenas 70% dos valores chegaram efetivamente ao produtor, a situação tende a se repetir.”

O diretor administrativo da entidade, Diego Bertuol, acrescentou que a linha de custeio empresarial — na qual se enquadra a maior parte dos produtores — teve a taxa elevada de 12% para 14% ao ano, o que compromete ainda mais o acesso ao financiamento. Para o Pronamp, voltado aos médios produtores, a taxa foi mantida em 10%, enquanto outras operações variam conforme o porte e a finalidade.

A entidade também lamenta que os recursos livres tenham sido reduzidos em 31%, enquanto os investimentos agropecuários controlados cresceram nominalmente, mas sem correção real pela inflação. Parte desses recursos, inclusive, já está comprometida com operações da safra passada.

Zarc

Outro ponto sensível apontado pela Aprosoja é a exigência de cumprimento rigoroso do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para concessão de crédito, mesmo reconhecidamente defasado em relação às práticas reais no campo.

Quanto ao Programa de Construção de Armazéns (PCA), a sugestão da Aprosoja era de ampliar o orçamento para R$ 9 bilhões, priorizando pequenos e médios produtores. No entanto, o governo destinou apenas R$ 3,7 bilhões para estruturas de até 12 mil toneladas, com taxa de 8,5% ao ano, e R$ 4,5 bilhões para grandes estruturas, com juros de 10%.

No eixo da sustentabilidade, o setor também esperava incentivos mais robustos para quem adota práticas de melhoria contínua, com desconto de 1 ponto percentual nos juros. O governo, no entanto, concedeu apenas 0,5%, medida vista como simbólica e insuficiente.

“Alguns parâmetros anunciados soam inexequíveis diante do cenário econômico. O governo precisa rever seus gastos crescentes. Ajuste fiscal é essencial para que a política monetária funcione em favor da produção de alimentos”, destacou Beber.

Agricultura familiar

Na véspera, o governo também lançou o Plano Safra da Agricultura Familiar, com R$ 89 bilhões destinados a programas como irrigação sustentável, mecanização, incentivo a mulheres do campo, transição agroecológica e apoio a cooperativas.

Apesar do discurso oficial de fortalecimento da produção nacional, a Aprosoja MT alerta que o excesso de regulamentação e a elevação dos custos tornam o crédito rural cada vez mais inacessível, mesmo em um cenário em que o setor agro é reconhecidamente estratégico para a economia brasileira.

A entidade afirma que continuará atuando em defesa de uma política agrícola mais concreta, justa e exequível, para que os recursos anunciados não fiquem apenas no papel, mas cheguem efetivamente ao produtor rural.

Formado em Jornalismo, possui sólida experiência em produção textual. Atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT, onde é responsável por criar conteúdos sobre política, economia e esporte regional. Além disso, foca em temas relacionados ao setor agro, contribuindo com análises e reportagens que abordam a importância e os desafios desse segmento essencial para Mato Grosso. Cargo: Jornalista, DRT: 0001781-MT