Na perspectiva da transição energética, os biocombustíveis já têm papel de destaque na agenda global. O Brasil se destaca há décadas na produção de fontes alternativas ao combustível fóssil com base em matérias-primas geradas pela agricultura. Os desafios e oportunidades na produção e adoção de biocombustível no cenário nacional form debatidos no Seminário AGROENERGIA Transição Energética – edição Biodiesel, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), com apoio da Embrapa Agroenergia e do Observatório de Bioeconomia da FGV, dia 24 de abril, em Brasília-DF.
São 21 anos desde a criação do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), em 2004, que teve como marco inicial a Lei 11.097 de 13/01/2005 (Lei do Biodiesel). Em duas décadas de políticas públicas aliadas à ciência e tecnologia no campo, o País alcançou um patamar de destaque como produtor de biocombustível. Com uma produção consolidada de matéria-prima, hoje, 74% do biodiesel vem do óleo de soja, mas com uma crescente diversificação dessas matérias a partir de grãos, canola e óleo de dendê, óleo de milho, de algodão, para citar alguns.
Segundo destacou Alexandre Alonso, chefe-geral da Embrapa Agroenergia, em sua fala de abertura no evento, a discussão e ações em relação ao biodiesel já vem de longa data no Brasil, mas, com a conexão direta que o tema dos biocombustíveis com a transição energética e, consequentemente, às questões climáticas, o assunto ganha novo destaque no cenário mundial. “Sem agricultura, não há biocombustível, e nós temos ciência e tecnologia para essa agricultura. O que pode levar o Brasil a uma posição de destaque no mundo”.
Hoje, 45% da matriz energética do Brasil vem de fontes renováveis, é o que apresentou o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia, Bruno Laviola, na palestra de abertura do Seminário. “O Brasil já está no processo de transição energética há algum tempo. É importante que o mundo reconheça o País como um dos maiores produtores de biocombustíveis sustentáveis”, destacou. Em 2024, o País bateu recorde na produção de biodiesel, alcançando 9 bilhões de litros. Segundo dados da UFOP, o Brasil ocupa hoje a 3ª posição global em produção de biodiesel. Se considerado o contexto unitário, visto que a União Européia, que está em segundo lugar, é uma agrupamento de países, já somos o 2º maior produtor.
Atualmente, a produção nacional de biodiesel se concentra nas regiões Centro-Oeste (MT) e Sul (RS), por serem os locais com maior escala de produção da soja, principal matéria-prima. Para Bruno Laviola, a perspectiva de levar essas produções também para as regiões Norte e Nordeste é ampliar a geração de emprego e renda e melhorar a logística nesses locais, ou seja, conectando cada vez mais todas as regiões do País às 58 usinas que hoje produzem biodiesel (dados ANP).
Ainda na perspectiva de aumento de produção, pensar em tecnologias que tornem possível aproveitar a 2ª safra (safrinha) para o cultivo de oleaginosas é também uma oportunidade a ser explorada. Segundo Laviola, o aproveitamento da safrinha é uma alternativa para ampliar a escala de produção de óleo sem aumentar um hectare e agregando a isso o fator desenvolvimento regional que o aumento de produção de matérias-primas pode gerar. Ou seja, o Brasil está apto a produzir matérias-primas para geração de biodiesel, trazendo junto geração de renda, emprego e produtividade sem aumento de área plantada.
A Embrapa Agroenergia desenvolve projetos de pesquisa voltados ao desenvolvimento de matérias-primas, produção de biodiesel e aproveitamento de resíduos e coprodutos da cadeia de produção. Em destaque, pode-se citar os projetos envolvendo estudos para domesticação da macaúba, espécie nativa, tropicalização da canola e agregação de valor a glicerina.
COP 30
No ano que teremos a COP 30 realizada no Brasil, é premente destacar e debater o impacto desse produto na agenda das questões climáticas. Falar de biocombustível, é falar de descarbonização. O uso de biocombustível diminuiu em até 80% a emissão de CO2 em relação ao combustível fóssil.
Seminário na íntegra
O Seminário AGROENERGIA Transição Energética – edição Biodiesel teve a participação de entidades do setor, produtores rurais, especialistas, diretores do Sistema CNA/Senar e presidentes de Federações de agricultura e pecuária dos Estados. A mesa de abertura contou com o presidente da CNA, João Martins, o deputado federal Arnaldo Jardim, o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso, e o coordenador do Centro de Estudos em Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, Guilherme Bastos.
O evento também recebeu como palestrantes no Painel 1: Do Campo à transformação: Explorando as matérias-primas do biodiesel, Alexandre Pereira, diretor comercial da Biopower; Fábio Júnior Benin, coordenador de PD&I da Be8; e Dioger Teruel, gerente de Pesquisa e Inovação da Acelen Renováveis e no Painel 2: Energia limpa em movimento: O papel do biodiesel na transição energética, Lucas Boacnin, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Argus Media, e André Lavor, CEO e cofundador da Binatural.
Assista no canal do Sistema CNA/Senar no Youtube e baixe também a publicação “Biodiesel – A força da agricultura brasileira na transição energética”, que reúne informações e números de destaque relacionados ao biodiesel no Brasil, elaborada pela Embrapa Agroenergia e o Observatório de Bioeconomia da FGV.
Políticas públicas
A transição energética a partir da agricultura no Brasil não é recente — ela começou a se desenhar já na década de 1970, com um movimento estruturado de transformação da agropecuária nacional, que coincide com a criação da Embrapa em 1973. Desde então, o País passou a investir de forma estratégica em pesquisa agropecuária, desenvolvendo soluções inovadoras baseadas em recursos renováveis.
Esse processo foi amplificado por políticas públicas federais que, ao longo das décadas, promoveram o uso de matérias-primas sustentáveis, com destaque para o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), lançado em 1975, que consolidou o etanol como alternativa à gasolina.
Já nos anos 2000, a criação do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), em 2004. Mais recentemente, com o lançamento da Política Nacional de Combustível do Futuro (Lei 14.993 de 8 de outubro de 2024), o Brasil reafirmou seu compromisso com a descarbonização da matriz de transportes, integrando iniciativas como o RenovaBio, o Programa Rota 2030 e o incentivo ao uso de combustíveis sustentáveis da aviação (SAF) e do diesel verde. A Embrapa Agroenergia teve participação direta na formulação da Lei do Combustível do Futuro, integrando o grupo de trabalho de pesquisa, desenvolvimento e inovação, contribuindo por meio de notas técnicas e participação em audiências públicas sobre o tema.
Em todas essas políticas públicas, a Embrapa tem exercido papel estratégico como geradora de conhecimento, tecnologia e inovação para o uso sustentável da biomassa — uma atuação que ganha ainda mais relevância nesta semana em que a Empresa completa 52 anos de contribuição contínua ao desenvolvimento do Brasil.