A Embrapa realizou nesta quarta-feira, 13 de novembro, o painel “Soja Baixo Carbono: Alicerces para uma agricultura tropical resiliente e sustentável”, na AgriZone, Casa da Agricultura Sustentável, durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém (PA). O evento teve transmissão ao vivo pelo canal da Embrapa no YouTube: youtube.com/@embrapa/streams
A diretora de Inovação da Embrapa, Ana Euler, ressaltou a importância de promover uma visão integrada entre produção agrícola, sustentabilidade e conservação ambiental. Para ela, o objetivo é evidenciar a possibilidade de desenvolver uma agricultura, que conviva em harmonia com a floresta e com a bioeconomia. “Esses sistemas não competem entre si, eles coexistem e se retroalimentam. É essa complementaridade que queremos mostrar ao mundo”, destacou a diretora.
A chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja, Roberta Carnevalli, disse que ao apresentar o programa Soja Baixo Carbono, a Embrapa pretende demonstrar como o Brasil está implementando mecanismos concretos de mitigação e adaptação climática, com foco em uma das principais cadeias agrícolas do país. Segundo ela, a iniciativa reforça o compromisso da Embrapa com a transição climática. “O protocolo é mensurável, verificável e voluntário, com certificação de terceira parte. Está sendo construído com base científica e será lançado em 2026, buscando reconhecimento internacional”, afirmou. O programa reúne sete grandes parceiros – Bayer, Bunge, Cargill, Coamo, Cocamar, GDM e UPL – e propõe indicadores claros para diferenciar sistemas produtivos de baixa emissão.
Durante o painel, o pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Debiasi, enfatizou que a resiliência climática na agricultura depende da integração de boas práticas de manejo do solo e do uso eficiente dos recursos ambientais. Com base em estudos de longa duração realizados em Londrina (PR), Debiasi mostrou que, após 10 anos, o sistema de planejamento direto proporcionou 48% mais produtividade que o preparo convencional e prejudica em até 76% a pegada de carbono da soja. Em anos de seca, a prática garantiu 28 sacas a mais por hectare, comprovando maior resistência ao estresse hídrico.
Debiasi afirmou ainda que uma adoção integrada das boas práticas pode reduzir em até 60% a pegada de carbono da soja. “O que faz a soja de baixo carbono não é uma única técnica, mas o conjunto de decisões corretas — da escolha da cultivar ao manejo do solo. Pequenas escolhas geram grandes impactos na construção de uma agricultura climaticamente resiliente”, concluiu.
Também participou do painel a pesquisadora da Embrapa Soja, Mariangela Hungria, que ressaltou o papel estratégico dos bioinsumos, especialmente as bactérias fixadoras de nitrogênio, na promoção da agricultura de baixo carbono. “Hoje, cerca de 85% da área de soja no Brasil utiliza inoculantes, gerando uma economia anual de US$ 27 bilhões e evitando a emissão de 160 milhões de toneladas de CO₂ equivalente”, destacou. Mariangela afirmou que o país possui mais de 150 estirpes de bactérias selecionadas e validadas em campo, pronto para aplicação em mais de 80 espécies de leguminosas e pastagens, mas ainda há baixa adoção em culturas como o feijão e o milho, por exemplo.
Após as apresentações, houve um debate que apresentou os impactos e os caminhos para a produção de soja com baixo carbono, moderado pelo pesquisador Marco Nogueira, da Embrapa Soja. Participaram como painelistas Rogério Castro, CEO da UPL-Brasil; Pamela Moreira, diretora de Sustentabilidade LATAM da Bunge; Felipe Albuquerque, diretor de Sustentabilidade LATAM da Bayer; e Eduardo Lima Queiroz, coordenador de Relações Governamentais da Organização das Cooperativas do Brasil.
Painel debate Soluções para Mitigar as Mudanças Climáticas
Ainda neste dia 13 de novembro, a Mesa Redonda sobre Soja Responsável (RTRS) promoveu o painel Soluções da RTRS para Mitigar as Mudanças Climáticas, que trouxe uma visão de diferentes elos da cadeia da soja para debater ações abordadas sobre redução de emissões de carbono e aumento da resiliência do sistema de produção. A diretora da RTRS, Marina Músculo, explicou que a organização global sem fins lucrativos está investindo em novos projetos de aprimoramento de seus critérios de certificação, com foco na conservação ambiental, nas relações com comunidades locais e na valorização dos produtores.
Helen Lazzari, consultora da RTRS, apresentou os avanços de um projeto piloto voltado para a promoção da agricultura regenerativa entre produtores de soja. A busca iniciativa definir e aplicar práticas regenerativas com base em três pilares principais: técnico, de seleção e de mercado. “Depois de um trabalho conceitual e teórico, estruturamos o projeto sobre esses três pilares para garantir consistência técnica, além do processo de verificação e opções econômicas para os produtores”, explicou Helen. “Ainda estamos em fase piloto, mas a ideia é criar um modelo nacional que reconheça e premie o produtor que adota boas práticas”, destacou.
O pesquisador Marco Antonio Nogueira, da Embrapa Soja, ressaltou que a saúde do solo é o ponto central da resiliência agrícola. Ele destacou que no sistema de plantio direto, a diversificação de culturas e o uso de plantas de cobertura são estratégias essenciais para aumentar a eficiência do sistema produtivo. Outro exemplo relatado pelo pesquisador foi a fixação biológica de nitrogênio na soja, tecnologia que dispensa o uso de fertilizantes nitrogenados e reduz custos. “O solo precisa continuar exercendo o seu papel natural: armazenar carbono, reter água, regular o ciclo hidrológico e sustentar ecossistemas produtivos e equilibrados”, concluiu.
A diretora de Sustentabilidade da Amaggi, Fabiana Reguero, destacou a importância da certificação e da agricultura regenerativa como caminhos para agregar valor e reduzir emissões na cadeia da soja. A certificação, afirma, permite ao produtor mitigar riscos, estimular a adoção de boas práticas agrícolas e obter valorização no mercado, além de fortalecer o vínculo entre responsabilidade socioambiental e competitividade. Para Reguero, o agronegócio brasileiro tem papel estratégico na agenda climática global, e a RTRS pode apoiar o produtor a acessar incentivos e conectar suas práticas sustentáveis às demandas do mercado internacional.
Joshua Wickerhan, consultor da ISEAL (Aliança Internacional de Acreditação e Rotulagem Social e Ambiental) destacou que a distinção e a transparência são fundamentais para que os sistemas de certificação realmente gerem impacto positivo na sustentabilidade. Segundo ele, um sistema confiável deve ter princípios claros, auditorias independentes e participação de diversos setores, além de promoção de melhoria contínua. “Não basta uma empresa afirmar que é sustentável; é preciso comprovar isso por meio de auditorias profissionais e independentes”, afirmou.
Também participaram do painel Taciano Custodio, diretor de sustentabilidade do Rabobank, Mateus Rosado, da Bayer e Pamela Moreira, gerente de Sustentabilidade América Latina da Bunge.














