O aumento no número de usinas de etanol de milho em Mato Grosso nos últimos anos criou oportunidades e desafios para o mercado de floresta plantada. Fonte renovável de energia térmica, a madeira de floresta plantada é a opção preferencial das indústrias, mas o ritmo de implantação de novos plantios não está acompanhando a rápida expansão da produção do biocombustível no estado.
O alerta foi dado pela Associação de Reflorestadores de Mato Grosso (Arefloresta) nesta semana, durante evento da Expedição Silvicultura, em Lucas do Rio Verde. Palestrante no encontro, o presidente, Clair Bariviera, mostrou que, até 2025/26, a previsão é de que o Brasil use 13,52 milhões de toneladas de milho para fabricar etanol, volume que demandaria o consumo de 27 mil hectares de eucalipto por ano, ou um total de 162 mil hectares, se fosse usada apenas essa espécie como fonte energética.
“Atualmente, Mato Grosso tem dez usinas em operação, sete autorizadas e oito anunciadas, o que evidencia a rápida expansão desse biocombustível no estado. Mas, nos próximos dez anos, o ritmo vai se intensificar ainda mais, porque a projeção é de que a produção aumentará 104%, o que gera a necessidade de plantio de mais 168 mil hectares de eucalipto”, contabilizou o presidente da Arefloresta.
Um dos empecilhos para que os investimentos em plantações florestais acompanhem o ritmo do mercado de etanol de milho é técnico. “Quando pensamos em florestas plantadas, temos que considerar que a colheita é feita seis anos após o plantio. Isso significa que precisamos plantar hoje, e rápido, para conseguirmos atender a demanda em dez anos”, enfatizou Bariviera.
Fausto Takizawa, secretário geral da Arefloresta, explica porque as biorefinarias de etanol de milho se tornaram grandes clientes dos reflorestadores. “A madeira de plantações é usada nas caldeiras das indústrias tanto para mover turbinas quanto para gerar energia. O grande diferencial é que são fontes renováveis de energia térmica, ou seja, opções mais sustentáveis do que combustíveis fósseis”, observou.
No entanto, o estado viu dobrar o consumo de lenha no período de 2021 a 2024. “Essa dependência da biomassa nativa é preocupante num cenário de descarbonização da economia, principalmente porque o uso de madeira de reflorestamento em nosso estado caiu de 59% para 50% nesses três anos, acendendo um alerta para todos”, enfatizou Clair Baiviera.
Mato Grosso tem grande potencial no mercado de biomassa plantada. A migração de áreas de pastagens para o plantio de florestas é uma realidade e os players do mercado se destacam pelas boas práticas e pelo investimento em ciência e pesquisa. “Associados da Arefloresta contam com certificação FSC®️ e registraram 21 cultivares de teca no Ministério da Agricultura (MAPA), o que mostra o nosso compromisso com a inovação”, ponderou Takizawa.
Sobre a “Expedição Silvicultura”
A caravana, promovida pela Canopy Remote Sensing Solutions em parceria com a Embrapa Florestas, está percorrendo 14 estados brasileiros para traçar um raio-X sobre a atividade silvícola no país. Lucas do Rio Verde recebeu o evento nesta quinta (09), com apoio da Arefloresta e do Sindicato Rural do município.