CPMI do INSS: empresário Fernando Cavalcanti mantém silêncio após responder a relator

Durante a sessão da CPMI do INSS, o empresário Fernando dos Santos Cavalcanti respondeu apenas às perguntas iniciais e depois optou por permanecer em silêncio, amparado por decisão do STF.

Fonte: CenárioMT

CPMI do INSS: empresário Fernando Cavalcanti mantém silêncio após responder a relator
Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O empresário Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti, alvo da Operação Sem Desconto, preferiu se calar durante grande parte de seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS nesta segunda-feira (6). Inicialmente, ele respondeu a perguntas do relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), mas depois, segundo seu advogado Thiago Machado, decidiu permanecer em silêncio.

Ex-sócio do advogado Nelson Willians — também investigado no suposto esquema de descontos irregulares em benefícios previdenciários —, Cavalcanti é acusado de envolvimento em fraudes apuradas pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU). O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux concedeu um habeas corpus que lhe garante o direito de não responder a perguntas que possam incriminá-lo.

Durante o início do depoimento, Cavalcanti negou qualquer participação no esquema e afirmou não ser laranja nem beneficiário das operações investigadas. Ele também declarou desconhecer atividades ilícitas atribuídas a Nelson Willians e a Maurício Camisotti, apontados como principais operadores do esquema de corrupção.

A Polícia Federal apreendeu mais de 20 veículos de luxo pertencentes ao empresário, entre eles uma Ferrari avaliada em cerca de R$ 4,5 milhões e uma réplica de carro de Fórmula 1. Os bens foram recolhidos em Brasília, um dia antes da deflagração da Operação Sem Desconto. Cavalcanti afirmou que os veículos foram adquiridos legalmente e são de propriedade de sua empresa.

Além dos automóveis, relógios de alto valor e vinhos avaliados em R$ 7 milhões também foram encontrados. Questionado sobre o aumento expressivo de seu patrimônio, Cavalcanti disse que os valores estão devidamente declarados em seu imposto de renda, mas preferiu não detalhar números durante a sessão.

O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), afirmou que a defesa tenta usar o espaço da comissão como estratégia. Para ele, há fortes indícios de que o empresário faz parte de uma rede de corrupção que movimentou valores milionários. “É impossível que alguém que ganhava R$ 5 mil por mês alcance um patrimônio tão elevado em poucos anos”, disse Viana.

O senador classificou o grupo investigado como uma “máfia” composta por empresários, advogados, servidores públicos e políticos. Segundo ele, o esquema envolvia corrupção em larga escala e financiamentos de campanhas eleitorais. A CPMI aguarda resposta do ministro do STF André Mendonça sobre o pedido para ouvir Maurício Camisotti, que também obteve habeas corpus para não depor.

A investigação aponta ainda que a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (AMBEC), uma das entidades sob suspeita, seria controlada por “laranjas” ligados a Camisotti. As contribuições dos associados saltaram de R$ 135 mil em 2021 para R$ 91 milhões em 2023, segundo dados da PF e da CGU.