Emprego resiste à alta dos juros e surpreende economistas

Mesmo com a taxa Selic em 15%, o Brasil registra a menor desocupação da série histórica, com geração recorde de empregos formais e aumento da renda.

Fonte: CenárioMT

Brasília (DF), 05/05/2025 - O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) realiza a Semana do Trabalho, de hoje (5) a sexta-feira (9), na sede do ministério, em Brasília, com uma série de ações e serviços
Emprego resiste à alta dos juros e surpreende economistas - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Apesar da elevação dos juros básicos para 15% ao ano, o mercado de trabalho brasileiro segue aquecido e mostra resiliência. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados pelo IBGE, apontam que a taxa de desocupação no trimestre encerrado em junho caiu para 5,8%, o menor índice desde o início da série histórica em 2012.

Além da queda na desocupação, o levantamento revela recordes em vários indicadores: o número de pessoas ocupadas chegou a 102,3 milhões, com 1,8 milhão a mais em comparação ao trimestre anterior; o total de trabalhadores com carteira assinada subiu para 39 milhões; e o rendimento médio mensal ficou em R$ 3.477.

O economista Gilberto Braga, do Ibmec, classificou os resultados como uma “bela surpresa”, considerando o atual cenário de juros elevados. Segundo ele, o desempenho positivo vai além da redução no desemprego, incluindo também aumento da formalização e melhoria na remuneração.

A informalidade caiu para 37,8%, o menor patamar desde o segundo trimestre de 2020. Mesmo diante de um contexto de aperto monetário, os números indicam que a política de juros altos ainda não impactou negativamente o emprego.

O Banco Central mantém a Selic elevada como forma de conter a inflação, que está em 5,35% no acumulado de 12 meses, acima do teto da meta. A autoridade monetária reforça que os efeitos da política monetária costumam demorar de seis a nove meses para refletir na economia real.

Para o economista Rodolpho Tobler, da FGV, o cenário é contraditório, pois, embora os juros estejam altos, o mercado de trabalho acompanha o ritmo da atividade econômica, que ainda se mantém forte.

Sandro Sacchet, do Ipea, destaca que o impacto da Selic sobre o emprego costuma ser lento. Ele atribui a resistência do mercado a dois fatores principais: a manutenção do valor do Bolsa Família em R$ 600, o que sustenta o consumo das famílias, e o crescimento do trabalho por conta própria, que alcançou 25,7 milhões de pessoas – maioria sem CNPJ e, portanto, informal.

Segundo Sacchet, essa nova estrutura do mercado de trabalho, mais dependente do consumo das famílias do que dos investimentos empresariais, contribui para a demora no impacto dos juros sobre o emprego.

Para os próximos meses, especialistas preveem uma possível desaceleração na geração de vagas. Tobler avalia que o ritmo atual pode não se sustentar até 2026, e Sacchet prevê uma leve alta no desemprego antes de uma nova queda com as contratações de fim de ano.

A expectativa é de que a taxa de desemprego continue em níveis baixos até o fim de 2025, mesmo com uma possível perda de fôlego na economia.

Gabriela Cordeiro Revirth, independente jornalista e escritora, é uma pesquisadora apaixonada de astrologia, filmes, curiosidades. Ela escreve diariamente para o Portal de Notícias CenárioMT para partilhar as suas descobertas e orientar outras pessoas sobre esses assuntos. A autora está sempre à procura de novas descobertas para se manter atualizada.