Veterinária espancada por personal trainer se emociona em audiência: ‘Queria me matar’

Fonte: Sílvio Túlio e Vanessa Martins, G1 GO

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Foto: Sílvio Túlio/G1

A veterinária de 33 anos que aparece em um vídeo sendo espancada pelo ex-namorado Murilo Morais Segurado, que é personal trainer e tem a mesma idade, se emocionou durante depoimento em audiência de instrução do caso, nesta quinta-feira (21), em Goiânia. O homem chegou a ser preso, mas atualmente responde em liberdade. Ao relatar o corrido, a mulher chorou e disse que ficou chocada ao ver as imagens da própria agressão. Ela prefere manter o anonimato.

“No vídeo que eu vi a força que ele usava. Ele queria me matar (começa a chorar). Eu nunca imaginei passar por uma situação dessas”, desabafou.

A audiência foi presidida pelo juiz Jesseir Coelho de Alcântara, que também foi o magistrado que aceitou a denúncia contra o réu. Na sessão, também foram ouvidos, além da vítima, testemunhas e o próprio réu.

Murilo foi o último a ser ouvido. Ele confessou que agrediu a então namorada, mas negou que teve o intuito de matá-la e, por isto, não acha justo responder pelo crime de tentativa de homicídio. O réu afirmou que está arrependido, “tem vergonha” do que fez e consciência das agressões. Ele alegou que os golpes ocorreram porque a mulher ofendeu a mãe dele.

“Em nenhum momento passou pela minha cabeça, jamais tive a intenção de matá-la. Não é da minha índole, do meu caráter. Estou muito arrependido, perdi a cabeça”, diz.

“Ela jogava as frustrações dela em mim. O laboratório dela não teve êxito, e ela queria que eu fizesse um mestrado para aliviar ela. Na discussão, ela começou a ofender a minha mãe, que é professora. Ela disse ‘sua mãe que se dane’. Veio a ira e eu agredi ela”, completou.

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A vítima foi espancada no dia 28 de agosto. De acordo com o processo, os dois tiveram uma discussão por motivo banal e Murilo foi até o apartamento da namorada dizendo que queria conversar. Os dois entraram em um carro para ir a uma igreja, mas continuaram brigando.

O vídeo registra que a mulher desceu do automóvel. Em seguida, o personal a seguiu e começou a dar socos e chutes, mesmo com a vítima já caída no chão. A agressão só parou quando um policial que passava pelo local prendeu Murilo.

Durante a audiência, a mulher contou o que lembra da agressão.

“Ele me batia na cabeça. Parece que eu não estava ali. Só minha alma. Ele não parava. Ouvi um senhor gritando: ‘Você vai matar ela! O senhor vai matar ela!’. Então ouvi um tiro, e as agressões pararam”, recordou-se.

Murilo foi preso em flagrante e, durante a audiência de custódia, também realizada pelo juiz Jesseir Coelho de Alcântara, a prisão foi convertida em preventiva. No entanto, cerca de um mês depois, a Justiça determinou a soltura dele, que vem respondendo ao processo em liberdade desde então.

Sequelas

A vítima disse ainda que ficou cinco dias internada em um hospital após as agressões e relatou ter ficado com sequelas após o ocorrido, além de ter a vida desestabilizada.

“Eu fechei a minha empresa. Quebrei o braço, passei por uma cirurgia e coloquei duas placas e sete parafusos. O exame constatou que eu perdi a força e a sensibilidade deste braço. Já fiz mais de 40 sessões de fisioterapia”, contou.

Ao ser questionada sobre o que sentiu após Murilo ser solto, ela disse que tem medo do ex-namorado e que chegou a pensar em se mudar para o interior para morar com os pais.

Relação ‘instável’

A veterinária contou que namorou o personal por quatro anos e que chegou a pensar em se casar com ele, apesar de dizer que a relação entre eles era “instável”. A mulher relatou que Murilo já havia tido reações violentas ou inesperadas duas vezes.

“Ele explodia, aumentava o tom de voz, gesticulava. Em duas situações eu fiquei chocada. Na primeira, eu disse que queria terminar, e ele começou a chorar. Ele disse que, se eu terminasse, ele iria pular da sacada do apartamento, no terceiro andar. Chegou a colocar uma das pernas para fora”, disse.

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“Na outra vez, eu estava na cozinha de casa, e ele pôs a mão no meu pescoço e me jogou contra a parede”, completou.

Testemunhas

Uma das testemunhas ouvidas foi o marceneiro Seleon Messias, que ajudou a veterinária logo após as agressões. Ele disse que estava atendendo a um cliente na região e notou a discussão entre o casal, seguida do espancamento.

“Comentei com minha esposa que o casal ia brigar e, logo em seguida, ele deu um tapa nela. Eu assustei porque ele era enorme. Então comecei a gritar e socorri ela. Foi quando o policial chegou, se identificou e pediu para ele parar. Como não parou, ele deu um tiro para cima”, relatou.