Hidrelétricas no Pantanal podem prejudicar múltiplo uso de recursos hídricos, aponta bióloga

Fonte: OLHAR DIRETO

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Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

A bióloga e pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Débora Calheiros acredita que o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), busca privilegiar a geração de energia em detrimento dos demais usos dos recursos hídricos da Bacia do Alto Paraguai (BAP), onde devem ser instaladas hidrelétricas. “Há comunidades inteiras que dependem dos rios para atividades como a pesca e o turismo”, diz.

Há cerca de duas semanas, Mauro Mendes pediu ao ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, a flexibilização da decisão da Agência Nacional de Águas (ANA), que suspendeu desde setembro do ano passado a instalação das novas usinas. A implementação deve acontecer somente a partir de em março de 2020, quando um estudo que avalia os impactos no meio ambiente e múltiplo uso das águas ficará pronto.

Débora explica que o estudo envolve cientistas de pelo menos 50 universidades e irá analisar 180 novos empreendimentos de geração de energia na BAP. Somente entre Cuiabá e Rosário Oeste já há seis pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) que impactaram visivelmente na atividade pesqueira.

Em pesquisas já realizadas, há registros de interrupção das rotas migratórias do peixes, em razão das barragens físicas e alteração na descarga de nutrientes e material em suspensão nos rios. “Na verdade, essa decisão da ANA é para salvaguardar essa atividade, além do turismo, meio ambiente etc. A sociedade tem que decidir sobre essa questão”, defende.

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Paulo Teixeira, professor e pesquisador da UFMT, explica que a implantação das usinas podem impactar a biodiversidade, visto que pode alterar os níveis de seca e cheia do pantanal. Os primeiros animais que seriam afetados seriam os peixes.

Já o empresário do setor do turismo, André Von Thuronyi, diz que a energia advinda das hidrelétricas, em seus diversas modais, não é mais considerada limpa já que traz em si inúmeras consequências danosas a diversas formas de vida e as PCHs não fogem desta regra.

“Nós, que vivemos no pantanal, sabemos muito bem das consequências”. Para ele, “o pantanal, como está nos dias de hoje, não sustenta apenas milhares de formas de vida silvestres, mas também milhares de pessoas e uma cultura vibrante, que inspira respeito e admiração em todos que aqui vivem ou visitam”.