Após um câncer no rosto, uma aposentada de 70 anos recebeu uma prótese no nariz. O implante em Lucinda Marques de Ramos foi feito no Hospital de Câncer em Mato Grosso, em Cuiabá. Ela foi diagnosticada com câncer no rosto e, com a remoção da parte afetada, perdeu parte do nariz e da boca.
Com rosto deformado, a aposentada que tinha uma vida ativa só queria se esconder. Ela disse que não imaginava que as consequências fossem tão drásticas. “Não falaram que iam tirar meu nariz e nem um pedaço de dentro da minha boca. Eu esperava a morte”, disse.
A filha dela, Cláudia Monçale, disse que a mãe não queria mais sair de casa. “Ela se trancava no quatro, não queria sair, não queria conversar, mesmo a gente insistindo para se sentar junto com a gente”, contou.
Em São Paulo, onde a aposentada mora com a família, é muito difícil conseguir o procedimento. Segundo a filha, além de caro, existe fila e só para consulta em seis meses. “Para ser chamado para avaliação, demora de seis meses a um ano”, disse.
A família descobriu que no Hospital do Câncer de Mato Grosso existe um serviço de próteses de silicone que produz partes de pacientes deformadas com o tratamento. O implante feito na unidade de saúde tem sido procurado por pessoas de vários estados.
Com a ajuda das netas e da filha, Lucinda viajou de Presidente Prudente (SP) a Cuiabá, em busca de uma prótese bucomaxilofacial.
A prótese do nariz ainda tem quatro etapas, que deve levar cerca de duas semanas.
Uma sessão para descolorir e maquiar a prótese para que fique conforme o tom de pele da Lucinda já foi agendada.
A médica especialista em próteses bucomaxilofacial, Maria Carmem Volpato, afirmou que em São Paulo, onde a paciente mora, a demanda é grande e que pessoas de vários estados procuram ajuda do Hospital do Câncer porque não tem unidades que façam esse tipo de prótese.
“Lá a demanda é grande, tem fila de espera. Aqui encontra essa possibilidade. O SUS não cobre, é filantropia, doação da rede feminina de combate ao câncer, se tivesse apoio estaria fazendo mais”, disse.
Entre os meses de janeiro e outubro, foram realizadas 658 próteses bucomaxilofaciais que substituem alguma parte do corpo entre a cabeça e o pescoço no país.
Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos três anos foram feitas mais de cinco mil próteses.
Entre os 14 tipos de próteses que são ofertados, os recursos federais são repassados aos estados e municípios e cada um usa de acordo com a capacidade de demanda.
No estado, as próteses são realizadas com dinheiro de doações ao Hospital do Câncer, além da correção facial, ela previne outras doenças, segundo a médica Maria Volpato.
“Ali tem um buraco. É uma ferida aberta com risco de infecção, então a gente usa próteses para tampar e evitar que ocorra algum dano que possa prejudicar a vida e a saúde do paciente”, contou.
A protética bucomaxilofacil Ana Maria Zanata trabalha com próteses de silicone e de resina desde 2005. Há dois anos, ela divide a fabricação delas com outra protética, o que também deu agilidade no atendimento.